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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
02
set 2014
terça-feira 21h00 Recitais Osesp
Recitais Osesp: Jean-Efflam Bavouzet


Jean-Efflam Bavouzet piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Ludwig van BEETHOVEN
Sonata nº 22 Para Piano em Fá Maior, Op.54
Sonata nº 23 Para Piano em Fá Menor, Op.57 - Appassionata
Maurice RAVEL
Miroirs
Béla BARTÓK
Sonata para Piano
INGRESSOS
  Entre R$ 66,00 e R$ 86,00
  TERÇA-FEIRA 02/SET/2014 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

A Sonata nº 22 e a Sonata nº 23, de Beethoven, foram compostas em 1804, quando o compositor desfrutava de férias de verão nos arredores de Viena. No entanto, pode-se constatar que são muito diferentes entre si.



A Sonata nº 22 é uma obra extremamente original, mas em parte mal compreendida e negligenciada pelos intérpretes. Seu primeiro movimento — “Tempo di Menuetto” — se inicia com uma melodia delicada, que estabelece um clima ameno, surpreendentemente aniquilado por um cânone, quase agressivo, de oitavas nas duas mãos. A justaposição tão contrastante e aparentemente excêntrica desses dois elementos pode ser compreendida como uma troça à música de salão, altamente disseminada na época, agradável como o motivo de início, porém sem grande profundidade, característica satirizada com a intervenção “mal-educada” do segundo tema. A atitude de Beethoven pode ser comparada à do contador de piadas que nem esboça um sorriso enquanto deleita sua plateia. Na coda, que encerra o primeiro movimento, ele depois promove uma espécie de conciliação entre esses dois motivos principais na forma de um hino solene no qual o primeiro elemento é predominante.

Trata-se da primeira das grandes sonatas do compositor a se constituir de apenas dois movimentos. Portanto, o “Allegretto” que se segue já é o último andamento da obra. Beethoven permanece aqui mais no campo da atmosfera, com cinco deliciosos minutos de um perpetuum mobile que brinca engenhosamente com as notas da escala de Fá Maior e suas modulações.

O título Appassionata, pelo qual a Sonata nº 23 ficou conhecida, foi dado postumamente por um editor, mas nem por isso deixa de ser extremamente apropriado: trata-se de uma das obras mais tempestuosas de Beethoven do ponto de vista emocional. O drama que transborda no primeiro movimento — “Allegro Assai” — é exacerbado por meio de contrastes extremos de intensidade. Já o segundo movimento — “Andante ” — se inicia na região grave, com um tema em forma de coral, ao qual se seguem três variações em que a melodia vai se tornando cada vez mais aguda e as notas do acompanhamento cada vez mais rápidas. O trecho inicial é retomado ao fim, dividido entre os vários registros do instrumento, mas uma harmonia enigmática frustra qualquer conclusão pacífica e conduz, por meio de uma série de acordes fortíssimos, ao terceiro movimento, que retoma o caráter enérgico do início da obra. É necessário grande vigor físico para manter a agitação incessante, quase caótica, com notas extremamente rápidas, que soam mesmo ameaçadoras. A coda, que se inicia com um novo elemento, em acordes, deve ser executada ainda mais rapidamente, concluindo a obra com arpejos descendentes que parecem querer colapsar o movimento sobre si mesmo.

Exatamente cem anos mais tarde, em 1904, Ravel iniciava a composição de uma de suas mais importantes obras para piano, Miroirs [Espelhos]. Trata-se de uma suíte de cinco peças, cada uma dedicada a um membro do grupo de artistas e intelectuais que se autodenominava Les Apaches e do qual o compositor fazia parte. Os Apaches contestavam o establishment e se reuniam semanalmente, em uma atmosfera de cumplicidade, para apresentar o que cada um havia produzido.

Apesar de Ravel não ter sido um bom pianista, nos deixou algumas das obras mais difíceis e mais bem escritas para o instrumento. Não se faz necessária apenas uma grande destreza técnica para realizar passagens com notas repetidas em grande velocidade, arpejos na mão esquerda cobrindo quase todo o teclado, notas duplas irregulares e trechos com incômoda sobreposição de mãos; para interpretar sua música, é preciso, sobretudo, um senso altamente desenvolvido de ritmo e uma capacidade de produzir diferentes timbres, aliados a grande poesia e imaginação.

A suíte se inicia com “Noctuelles”, título infinitamente mais poético em sua língua original do que na tradução como “Mariposas”. A peça é dedicada ao poeta Léon-Paul Fargue e teria sido inspirada por um de seus versos: “As mariposas deixam seus abrigos em voos irregulares, para ornamentar outros ambientes”. Esse voo irregular dos insetos é maravilhosamente traduzido pela assimetria entre as duas mãos que executam notas duplas cromáticas logo no início da peça.

Les Oiseaux Tristes” [Os Pássaros Tristes], dedicada ao pianista Ricardo Viñes, a quem coube a estreia da suíte em 1906, evoca, segundo o próprio Ravel, a imagem de “pássaros perdidos no torpor de uma floresta muito densa durante as horas mais quentes do verão”.1

Com “Une Barque Sur l'Océan” [Uma Barca no Oceano], Ravel mais uma vez demonstra seu fascínio pelo movimento das águas, tal como havia feito em Jeux d'Eau [Jatos d'água], de 1901. Mas aqui a perspectiva oceânica dá margem a um pianismo mais amplo, que explora sistematicamente trêmulos e arpejos.

Alborada Del Gracioso” [Alvorada do Gracioso] possui algumas das passagens de notas repetidas mais difíceis de toda a literatura para piano e por isso requer um instrumento com mecanismo perfeitamente regulado.
Essa obra de inspiração espanhola foi dedicada ao crítico musical Michel Dimitri de  alvocoressi. O próprio compositor, em carta, esclarece o significado do título: “Eu entendo sua dificuldade em traduzir ‘Alborada Del Gracioso’. É precisamente por isso que eu decidi não traduzi-lo. O fato é que o gracioso da comédia espanhola é um personagem muito especial que, até onde sei, não se encontra em nenhuma outra tradição teatral. Há um equivalente no teatro francês: o Fígaro de Beaumarchais [...]. Isso será suficiente para explicar o estilo humorístico desta peça.” É preciso esclarecer ainda que alborada seria um tipo de serenata da região da Galícia.

Ravel teria dito que a inspiração para compor “La Vallée Des Cloches” [O Vale Dos Sinos] teria vindo do dobre das catedrais ao meio-dia em Paris. Dedicada a seu amigo e aluno de composição Maurice Delage, a obra requer grande imaginação sonora.

Não deixa de ser surpreendente que, após o brilho de “Alborada”, Ravel tenha optado por terminar o ciclo em uma atmosfera meditativa, com uma peça desprovida de virtuosismo. Por esse motivo, muitos intérpretes invertem a ordem das duas últimas partes da suíte. Em meados dos anos 1920, Béla Bartók, após intenso trabalho como pesquisador de tradições musicais folclóricas, professor da Academia de Música de Budapeste e compositor, decide investir em sua carreira como autor-pianista. Provavelmente foi inspirado pelo sucesso alcançado por Stravinsky ao apresentar-se em turnê pela Europa e pelos Estados Unidos como solista de seu Concerto Para Piano e Instrumentos de Sopros [interpretado pela Osesp em abril passado]. Dessa forma, entre junho e novembro de 1926, Bartók compõe algumas de suas obras mais importantes para piano, a serem utilizadas em suas apresentações: a Sonata Para Piano, Ao Ar Livre e o Concerto nº 1 Para Piano.

Nos anos posteriores ao fim da Primeira Guerra Mundial, conhecidos como os anos loucos da música, enquanto a Europa redesenhava seu mapa político, compositores desenvolviam novas correntes estéticas que buscavam expandir os limites da arte até então realizada. Bartók responde a este desafio com um aumento significativo do uso de dissonâncias, incorporação de elementos rítmicos e harmônicos complexos, oriundos das tradições folclóricas, e tratamento percussivo do piano.

O primeiro movimento da Sonata Para Piano exala virilidade. Sua linguagem harmônica exótica reflete o convívio do compositor com a música tradicional dos povos balcânicos. O piano é valorizado em seu aspecto mecânico e percussivo, sem nenhuma concessão ao lirismo. O mesmo pode ser dito do segundo movimento, de uma expressão severa, crua e abstrata. Já o “Finale” tem caráter de dança folclórica — certamente inspirado em camponeses oriundos de terras distantes. A ausência de efeitos meramente virtuosísticos normalmente impede que o ouvinte tenha a real noção da extrema dificuldade técnica dessa música a ltamente concentrada. 
EDUARDO MONTEIRO é pianista e professor no Departamento de Música da USP.

1. Nichols, Roger. Ravel (Londres: Yale University Press, 2011).



PROGRAMA

JEAN-EFFLAM BAVOUZET piano

LUDWIG VAN BEET HOVEN
Sonata nº 22 Para Piano em Fá Maior, Op.54
- Tempo di Menuetto
- Allegretto
11 MIN

Sonata nº 23 Para Piano em Fá Menor, Op.57 - Appassionata
- Allegro Assai
- Andante
- Allegro ma Non Troppo - Presto
25 MIN

MAURICE RAVEL
-Miroirs [Espelhos]
- Noctuelles [Mariposas]
- Les Oiseaux Tristes [Os Pássaros Tristes]
- Une Barque Sur l'Océan [Uma Barca no Oceano]
- Alborada Del Gracioso [Alvorada do Gracioso]
- La Vallée Des Cloches [O Vale Dos Sinos]
25 MIN

BÉLA BARTÓK
Sonata Para Piano
- Allegro Moderato
- Sostenuto Pesante
- Finale

25 MI N