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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
03
out 2014
sexta-feira 21h00 Paineira
Temporada Osesp: Alsop rege Sinfonia nº 3 de Mahler


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Marin Alsop regente
Nathalie Stutzmann contralto
Coro da Osesp
Naomi Munakata regente
Coro Acadêmico da Osesp
Marcos Thadeu regente
Coro Infantil da Osesp
Teruo Yoshida regente


Programação
Sujeita a
Alterações
Gustav MAHLER
Sinfonia nº 3 em Ré Menor
INGRESSOS
  Entre R$ 36,00 e R$ 166,00
  SEXTA-FEIRA 03/OUT/2014 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa
É possível compor uma sinfonia após Beethoven? Essa pergunta atormentava boa parte dos músicos no final do século XIX, quando o Romantismo já era considerado um estilo “tardio” a ser ultrapassado, e os jovens “modernos” ensaiavam novas respostas e formas para antigas questões. Nesse contexto polêmico, as primeiras obras de Gustav Mahler, para além da grandiosidade imponente e das belas melodias, devem ser ouvidas como um desafio ao mundo e à cultura de sua época: “Chamar a Terceira de 'sinfonia' é na verdade incorreto, pois ela não segue a forma sinfônica usual. Em minha opinião, criar uma sinfonia significa construir um mundo com todos os meios disponíveis. O conteúdo constantemente novo e dinâmico determina sua própria forma” — teria dito o compositor à violista Natalie Bauer-Lechner, em conversa citada por Constantin Floros no livro Gustav Mahler - The Symphonies.

Composta nos verões de 1895 e 1896, durante as férias que garantiam ao atarefado regente o tempo necessário para a criação, a Sinfonia nº 3 só estreou em 1902, com a habitual rejeição do público e da crítica. Foi nesse período que Mahler, irritado com a leitura demasiado literal das ideias que serviam de inspiração para suas sinfonias, resolveu não divulgar o teor de seus programas.

Repleta de citações e intenções musicais, literárias e filosóficas, a Sinfonia nº 3 trazia no manuscrito o título “A Gaia Ciência”, uma referência ao controverso livro de Friedrich Nietzsche, filósofo que Mahler sempre admirou. O paródico subtítulo, “Sonho de um Dia de Verão” (em vez da “noite” shakespeariana), explicava o tom bucólico e panteísta da obra, que incluía os seguintes movimentos: “O Despertar de Pã e a Chegada do Verão: Uma Parada Dionisíaca”; “O Que me Contam as Flores do Prado”; “O Que me Contam os Animais da Floresta”; “O Que me Conta a Humanidade”; “O Que me Contam os Anjos”; e, finalmente, “O Que me Conta o Amor”. A progressão das imagens, do mito dionisíaco ao amor universal, segue uma cosmologia inspirada no poema “Gênesis”, de Siegfried Lipiner, e ilustra bem o propósito de recriar sinfonicamente não apenas um mundo, mas todo um universo.

O primeiro movimento, com uma extensão que o próprio Mahler chamou de “monstruosa”, é atravessado por uma parada musical composta por diferentes marchas, que vão da fúnebre à triunfal, e contém algumas das passagens mais ousadas de toda a obra mahleriana: trechos nas cordas que devem ser tocados “de modo selvagem”; ecos de apelos das fanfarras nos metais; longos e belos devaneios do violino solo; um inconcebível lamento confiado ao trombone; e uma espécie de fuga que se dispersa num redemoinho sonoro, sem levar a música a lugar algum. O aparente caos, rigorosamente composto, é na verdade um trabalho de contínua redefinição dos temas e motivos principais, numa crítica à reconciliação proposta pela forma-sonata tradicional. 

Após o bucólico segundo movimento, no qual as diferentes cores das “flores do campo” ganham a forma de um minueto lírico, com uma orquestração que antecipa a melodia de timbres da geração posterior, Mahler volta a se inspirar nos poemas populares da antologia romântica A Trompa Mágica do Menino. A parte instrumental de uma dessas canções é recuperada no terceiro movimento, descrevendo musicalmente, em sinuosas variações de temas e sons da natureza, as mudanças que ocorrem com a chegada do verão.

O contundente lamento nietzschiano do quarto movimento é um exemplo de como, na música de Mahler, os procedimentos habituais do Lied e da sinfonia se misturam, criando formas novas. No texto da “Canção da Meia-Noite”, retirado de Assim Falou Zaratustra, de Nietzsche, a dialética entre dor e prazer, dia e noite, vida e morte, é exposta musicalmente na constante evocação da palavra tief (profundo/profunda), sempre acompanhada por passagens instrumentais quase hipnóticas, que evocam nos registros mais baixos os sons da noite e da natureza. 

No breve quinto movimento, a “doce melodia” cantada pelo coro angelical pede perdão pelos pecados humanos, anunciando com ingenuidade e distanciamento irônico, em meio ao retumbar dos carrilhões, a possibilidade de que todos compartilhem a “alegria celestial” (que, no entanto, será alcançada apenas na canção final da Sinfonia nº 4, originalmente concebida como parte desta Terceira).

Assim como em outras obras de Mahler, o movimento final recupera temas e motivos de toda a sinfonia, aqui transfigurados numa atmosfera de inegável tranquilidade amorosa, como sugeria o título inicial. A indicação do andamento, um adágio, rompe com os usos da tradição, e algumas passagens do tempestuoso primeiro movimento parecem se dissolver em ecos e fragmentos nostálgicos, como se as marchas de Dionísio pudessem nos conduzir ao paraíso na própria Terra, sabedoria máxima da “gaia ciência”, da “sabedoria feliz” que atravessa cada compasso dessa obra.

É isso o que, para além do programa, “nos conta” a música de Mahler, no esforço crítico de atribuir um novo sentido à forma sinfônica, paradoxalmente monumental e intimista, transformando-a em um complexo mundo sonoro: “Minha sinfonia será diferente de tudo o que o mundo já ouviu! Toda a natureza fala nela, contando segredos profundos que só podemos intuir em sonhos!” Para entender esses “segredos profundos”, devemos acatar, humanos que somos, o pouco que nos pede o texto de Nietzsche, e “prestar atenção” na profunda música de Mahler. [2010]
JORGE DE ALMEIDA é doutor em Filosofia e professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na USP. Tradutor e ensaísta, é autor de Crítica Dialética em Theodor Adorno: Música e Verdade Nos Anos Vinte (Ateliê, 2007) e de vários estudos sobre filosofia, música e literatura. Publicou nesta revista o ensaio "Os Mundos de Mahler", entre outros textos (disponíveis em osesp.art.br).



MARIN ALSOP
regente
NATHALIE STUTZMANN contralto
CORO INFANTIL DA OSESP
TERUO YOSHIDA regente
CORO ACADÊMICO DA OSESP
MARCOS THADEU regente
CORO DA OSESP
NAOMI MUNAKATA regente honorária

GUSTAV MAHLER
[1860-1911]
Sinfonia nº 3 em Ré Menor [1895-6]

Primeira Parte
- Kräftig - Entschieden [Forte - Decisivo]

Segunda Parte
- Tempo di Menuetto - Sehr mässig [Moderadamente]
- Comodo - Scherzando - Ohne Hast [Sem Pressa]
- Sehr langsam - Misterioso - "O Mensch! Gib acht!" (Attacca) [Muito Lento - Misterioso - "Oh, Humano! Presta Atenção!"]
- Lustig im Tempo und keck im Ausdruck - "Bimm bamm/Essungen drei Engel" [Alegre em Tempo e Atrevido em Expressão - "Bim, Bam/ Cantavam Três Anjos"]
- Langsam - Ruhevoll - Empfunden [Lento - Tranquilo - Profundo]
99 MIN