PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
01
mai 2015
sexta-feira 21h00 Pequiá
Temporada Osesp: Vänskä e Coro da Osesp


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Osmo Vänskä regente
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Aylton ESCOBAR
A Rua dos Douradores - Litania da Desesperança [Estreia Mundial] [Coencomenda Osesp e Fundação Calouste Gulbenkian (SP-LX - Música Contemporânea do Brasil e de Portugal)]
Jean SIBELIUS
Sinfonia nº 6 em Ré Menor, Op.104
Sinfonia nº 7 em Dó Maior, Op.105
INGRESSOS
  Entre R$ 45,00 e R$ 178,00
  SEXTA-FEIRA 01/MAI/2015 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

O ano de 2014 cobriu-me com véus cinzentos: era a vez de olhar para dentro, pois em 2013 um ciclo se concluía e o futuro ainda nada me dizia do seu rosto, da sua voz. Os estímulos positivos ou as realizações de algum sucesso ou bem-sucedidas durante o ano que passou mal venceram a fumaça das dúvidas e o silêncio dos punhais para despejar faíscas de alegria.

 

No entanto, a Osesp honrou-me com o comissionamento de uma nova obra para coro e orquestra. A noção dessa responsabilidade fez dobrar a aflição inicial ao ser confirmada a parceria do projeto com a Fundação Calouste Gulbenkian de Portugal, com a estreia da obra anunciada para 2015, cá e lá. Não por acaso, mas por força das emoções em alerta, o Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa (1888-1935), caiu em minhas mãos para falar “de uma depressão profunda e calma” — o solilóquio de Pessoa incomparavelmente mais denso na dor e na beleza. Fui aprisionado pela suave e cruel sedução do que me contavam aquelas páginas. Com seus “quebrados e desconexos pedaços”, costurei o texto que, enfim, orientou minha viagem pessoal pelo mundo das opacidades. Encontrei o título da peça quase dramática que então compunha — A Rua Dos Douradores — no endereço onde viveu o personagem de Pessoa, certo Bernardo Soares, “aposentado em Lisboa”; o aposto ao título — Litania da Desesperança — teria sido um dos vários nomes pensados para o livro.

 

A obra musical, finalmente, não deu lugar a vibrações demasiado estridentes ou tuttis iridescentes; em vez disso preferiu trazer recônditas paisagens que a orquestra reconstrói como abrigo para o poeta: paredes e janelas, atmosferas. Por algum mecanismo emocional de difícil explicação, senti a proximidade da angústia e dos ambientes vividos por Fernando e Miguel de Unamuno (1864 - 1936), sobre cujos salmos eu havia escrito uma obra sete anos atrás [Salmos Elegíacos Para Miguel de Unamuno (2008), outra encomenda da Osesp]. Por essa razão, foram inelutáveis as poucas citações e transposições daquela para esta partitura, que afinal se parecem, sobretudo no caráter das litanias.

No livro de Pessoa, o texto vem escrito na primeira pessoa, testemunha solitária e melancólica. Assim, as vozes do coro — um eu multiplicado — só tiveram de misturar os cacos de espelho em que se estilhaçam o rosto e a alma da personagem comum que caminha pelos bares e ruas de uma cidade qualquer.

 

A partitura quis entender e repetir as reflexões do poeta anotadas no correr de longos anos. Tantos “pedaços desconexos” obrigaram-na a um frágil elemento de ligação para o tecido musical, apenas memórias recorrentes ouvidas nos solos instrumentais que vão cerzindo vagos traçados sonoros.

 

Ao final, o espírito do poeta se derrama sobre os espectadores, convocando-os, já que as angústias de Soares não brotaram ilhadas em uma só Pessoa: são coisas que nos dizem respeito — se a alma não for pequena.
AYLTON ESCOBAR

 

 

 

Jean Sibelius compôs suas sete sinfonias durante um quarto de século. A primeira estreou em 1899, quando ele tinha 33 anos; a última, quando estava chegando aos 60. Sibelius tinha planos de ir em frente e trabalhou numa oitava sinfonia por muitos anos, até queimar o manuscrito e ficar sem compor nas últimas três décadas de sua vida.

 

Muitas teorias tentam explicar por que ele não foi capaz de continuar seu bem-sucedido ciclo sinfônico, que forma a parte principal de sua produção como compositor. Alguns dizem que não conseguia controlar o problema que tinha com a bebida, outros culpam a rigorosa autocrítica. Acredito que uma explicação mais lógica é que tenha desenvolvido seu pensamento musical até o ponto em que não conseguia mais encontrar um modo de seguir avançando. Deve ter percebido que quando não se tem nada de novo para dizer, é melhor ficar em silêncio.

Colocadas em perspectiva histórica, as sete sinfonias formam um arco que vai do romantismo a um pensamento abstrato que transcende idiomas nacionais e, na verdade, quaisquer pontos externos de referência. Na história da música, o primeiro quarto do século xx foi marcado pelo colapso da harmonia tonal e pela introdução da música atonal. Sibelius havia estudado na Alemanha e na Áustria e viajava regularmente. Logo, estava consciente das novas tendências. Lutava para encontrar novos meios de expressão, mas não do mesmo modo que Arnold Schoenberg e seus pupilos. Não estava interessado em romper com a harmonia tonal — desenvolveu sua música a partir de dentro, construindo uma linguagem que foi denominada de “técnica dominó”: cada novo motivo se desenvolve a partir do anterior. A música muda constantemente, mas, mesmo assim, todos os motivos da sinfonia têm um mesmo código genético básico. Tudo se conecta.

 

A Sinfonia nº 6 estreou em Helsinque em 1923, e a nº 7, em Estocolmo, um ano depois. Intimamente ligadas pela técnica de composição, elas são, ao mesmo tempo, muito diferentes em seu caráter. A Sétima, em Dó Maior, é extrovertida e apolínea. Começa com um motivo ascendente, enquanto a Sexta, em Ré Menor, embarca num modo descendente, melancólico, que às vezes lembra a música de igreja da Renascença Italiana. Formalmente, a Sétima é mais avançada e tem a especificidade de transcorrer num movimento contínuo, o que reflete o pensamento formal radical típico das últimas obras de Sibelius, incluindo o poema sinfônico Tapiola (1926).

 

Em entrevista ao jornal Helsingin Sanomat, Osmo Vänskä, um dos mais importantes regentes da música de Sibelius em nossos tempos, comenta o caráter autobiográfico da Sinfonia no 6: “Um homem que está envelhecendo percebe a sua própria incapacidade. Os ideais estão lá, mas ele não consegue alcançá-los.” Ainda segundo Vänskä, a Sétima forma um par com a anterior, mas não se centra no próprio compositor: “O ego é deixado para trás, e as coisas são vistas do ponto de vista da humanidade. O compositor volta seu olhar para forças mais altas. A Sinfonia no 7 é música sacra.”

 

Para os ouvintes finlandeses, a música de Sibelius evoca um forte sentimento de natureza, com lagos azuis, florestas verdes de pinheiros e ar puro gelado. O próprio Sibelius, que gostava de contemplar a natureza e a mudança das estações, disse: “A Sinfonia no 6 sempre me lembra do odor da primeira neve”.

 

Embora as sinfonias anteriores, especialmente a no 2 e a no 5, continuem sendo as obras orquestrais de Sibelius mais executadas, junto com o Concerto Para Violino, as duas últimas são as mais originais e representam o auge de seu pensamento musical. Para Sibelius, não era possível ir mais longe.
RISTO NIEMINEN é mestre em Musicologia e Literatura pela Universidade de Helsinque, foi diretor artístico do Instituto de Pesquisa e Coordenação de Acústica/Música (Ircam) e atualmente é diretor do Serviço de Música da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Tradução de Rogério Galindo.

 

 

 

PROGRAMA

OSMO VÄNSKÄ regente
CORO DA OSESP

 

AYLTON ESCOBAR [1943]
A Rua Dos Douradores - Litania da Desesperança [Estreia Mundial]
[Coencomenda Osesp e Fundação Calouste Gulbenkian (SP -LX Nova Música Contem porânea de Brasil e Portugal)]
20 MIN
______________________________________
JEAN SIBELIUS [1865-1957]
Sinfonia nº 6 em Ré Menor, Op.104 [1923]
- Allegro Molto Moderato
- Allegretto Moderato
- Poco Vivace
- Allegro Molto
28 MIN

 

Sinfonia nº 7 em Dó Maior, Op.105 [1918-24]
22 MIN