BRAHMS
Abertura Trágica, Op.81
Brahms consagrou-se como um dos grandes defensores da chamada “música pura”, que não precisaria se apoiar em narrativas literárias (ou de qualquer ordem) para “fazer sentido”. Não espanta que a escolha de títulos para suas poucas obras que fogem da simples catalogação por número de opus (ou sequência de obras em determinado gênero) tenha sido sempre algo fortuita.
Poucos meses depois de compor seu Op.80, a Abertura do Festival Acadêmico, em 1879, Brahms escreveu uma nova abertura, de caráter oposto. Em carta a seu velho amigo Bernhard Scholz, diretor da sociedade sinfônica de Breslau, o compositor apresenta a criação e pergunta: “É uma abertura ‘Dramática’, ou ‘Trágica’, ou ‘Fúnebre’. Veja que, mais uma vez, sou incapaz de encontrar um título — pode me ajudar?”. Sem solução melhor, o Op.81 acabou ficando conhecido como Abertura Trágica.
A peça inicia com dois acordes tocados pela orquestra completa; dois ataques secos, que surpreendem o ouvinte desatento. Os tímpanos rugem e as cordas em uníssono apresentam o vigoroso primeiro tema, marcado por uma certa ambiguidade harmônica e pela austeridade da orquestração. O segundo tema tem caráter mais lírico e é harmonizado com maestria, garantindo o contraste característico da forma-sonata. Brahms desacelera o andamento e propõe um desenvolvimento em ritmo de marcha, numa seção central de extrema delicadeza. A recapitulação não abandona o clima camerístico
do desenvolvimento e os elementos dramáticos (ou “trágicos”) reaparecem apenas na coda, garantindo um desfecho enfático.
RICARDO TEPERMAN é doutor em Antropologia pela USP
e editor na Companhia das Letras.