GIOACCHINO ROSSINI [1792-1868] /150 ANOS DE MORTE
Petite Messe Solennelle [1863]
KYRIE
GLORIA
ET IN TERRA PAX
GRATIAS
DOMINE DEUS
QUI TOLIS
QUONIAM TU SOLUS SANCTUS
CUM SANCTO SPIRITU
CREDO
CRUCIFIXUS
ET RESURREXIT
ET VITAM VENTURI
OFERTÓRIO: PRELÚDIO RELIGIOSO
SANCTUS
O SALUTARIS HOSTIA
AGNUS DEI
85 MIN
Gioacchino Rossini escreveu a Petite Messe Solennelle em 1863, 34 anos após ter produzido Guilherme Tell, sua última ópera. Designada, por ele mesmo, como o "último dos meus pecados da velhice", a Pequena Missa pode ser analisada como a obra de um genial compositor do período romântico, que dedicou sua vida quase que integralmente à produção de óperas, e também como uma obra que incorpora elementos estilísticos de períodos anteriores, de acordo com a tradição da música sacra dos séculos XVII e XVIII. A união destas características certamente é o que faz da Pequena Missa uma obra única do repertório coral, executada até os dias atuais.
Sua estreia se deu em 14 de março de 1864, em Paris, na capela privada do palacete do Conde Pillet-Will, provavelmente comissionada por este. Na última página do manuscrito da Pequena Missa, o próprio Rossini deixou a dedicatória “Bom Deus... ei-la terminada, esta pobre pequena missa. Será música sagrada o que acabo de fazer ou será música maldita [sacrílega]? Nasci para a ópera-bufa, tu bens sabes! Um pouco de ciência [saber musical], um pouco de coração [emoção], eis tudo. Sê bendito portanto e me concede o Paraíso”.
A obra foi concebida originalmente para um coro de doze vozes, quatro solistas, dois pianos e harmônio. A partitura original traz a informação: “Doze cantores de três sexos — homens, mulheres e castrati — serão suficientes para a execução; a saber, oito para o coro, quatro para os solos, total de doze querubins”. É possível que a indicação “Pequena”, no título da obra, refira-se a esse pequeno efetivo, já que sua duração é de aproximadamente uma hora e meia. Alguns autores mais recentes têm afirmado que a intenção original de Rossini era de que, opcionalmente, um acordeão pudesse ser utilizado no lugar do harmônio. Atualmente, é possível encontrarmos alguns registros de performances da obra onde este instrumento é utilizado.
O termo adotado por Rossini, Missa Solene, surgiu no final do período barroco e refere-se à obra na qual cada canto do ordinário da missa - “Kyrie”, “Gloria”, “Credo”, “Sanctus” e “Agnus Dei” - apresenta-se dividido em seções e movimentos contrastantes. Missa Concertante ou Missa Cantata são outros termos bastante usados para este tipo de obra, onde o compositor procura mobilizar o ouvinte, relacionando o conteúdo expressivo do texto a recursos musicais. A alternância entre seções de textura vocal, com árias para solo, coros homofônicos ou polifônicos (remetendo a uma escrita antiga), andamentos lentos e rápidos, compassos diversos e formações instrumentais, tinha como objetivo diferenciar seções festivas e alegres de seções introspectivas e tristes. Essa perspectiva do pensamento barroco certamente pode ser observada ao longo da obra.
A Pequena Missa Solene é o verdadeiro testamento musical de Rossini. Ele se valeu de toda sua capacidade musical, todo o seu fervor e também de toda a sua audácia, impondo sua personalidade e criando uma obra com sua inegável assinatura estilística.
JULIO MORETZSOHN
Convidado da Temporada
Osesp 2018.
Leia um excerto do ensaio "Prefácio a Vida de Rossini", de Lorenzo Mammì, aqui.
Leia o ensaio "Signor Tambourossini", de Larry Wolff, aqui.