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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
29
mar 2018
quinta-feira 20h30 Cedro
Temporada Osesp: Peleggi, Titinger e Coro da Osesp


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Valentina Peleggi regente
Camila Titinger soprano
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Wolfgang Amadeus MOZART
As Bodas de Fígaro, KV 492: Abertura
As Bodas de Fígaro, KV 492: E Susanna non vien... Dove sono
Don Giovanni, KV 527: Crudele!... Non mi dir
Gioacchino ROSSINI
La Gazza Ladra: Abertura
O Cerco de Corinto: Giusto ciel, in tal periglio
Semiramis: Bel raggio lusinghier
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 5 em Dó Menor, Op.67
INGRESSOS
  Entre R$ 50,00 e R$ 222,00
  QUINTA-FEIRA 29/MAR/2018 20h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Falando de Música
Quem tem ingresso para o concerto da série sinfônica da temporada da Osesp pode chegar antes para ouvir uma aula em que são abordados, de forma descontraída e ilustrativa, aspectos estéticos das obras, biografia dos compositores e outras peculiaridades do programa que será apresentado em seguida.

Horário da palestra: uma hora antes do concerto.

Local: Salão Nobre ou conforme indicação.

Lotação: 250 lugares.

Notas de Programa

ENTREVISTA COM CAMILA TITINGER

 

1) Você foi aluna do Coro Infantil e do Coro Juvenil da Osesp e agora volta como solista. Como é estar de volta?

 

É uma grande honra. Quando estou na Sala São Paulo, passa um flashback em minha cabeça e me lembro de como era minha sensação quando eu entrava aqui e ficava entre estas paredes, e me sentia intimidada, porque é tudo muito grande e muito bonito. Para mim, é realmente uma conquista voltar aqui como solista. O tempo passou muito rápido, mas posso ser um exemplo para os jovens alunos de agora. Eu já passei por muitas coisas, e, quando eu era aluna, me perguntei várias vezes se essa era a carreira que eu queria seguir ou se valia a pena continuar. Então, estar aqui hoje e lembrar do passado me mostra que eu estou no caminho certo, e tudo que aconteceu teve uma razão e me trouxe até aqui. Isso é um incentivo para os jovens, para continuarem firmes e fortes e não deixarem se abalar pelo desânimo. Continuem na sua arte, no seu mundo, lidando com os problemas de uma forma muito boa e diplomática, acho que é isso o que eu posso dizer.

 

 

2) Depois de vários prêmios que você já ganhou, como veio o convite para ser bolsista no Centro de Estudos de Plácido Domingo?

 

Esta semana, inicio meu programa com a Osesp com o Dove sono da ária da Condessa [As Bodas de Fígaro, KV 492, de Mozart]. Eu cantei esta obra em uma das apresentações que fiz fora do Brasil, e foi lá que conheci Plácido Domingo. Ele e sua mulher viram minha apresentação, perguntaram se eu era brasileira e se eu morava aqui. Eu disse que sim e eles ficaram muito impressionados, me disseram que tinham gostado muito de me ouvir cantar e me ofereceram o apoio de sua Fundação, que se chama Plácido Domingo Marta Domingo.  Após isso, foram várias novas oportunidades, mas têm sido uma surpresa para mim, pois tudo tem ocorrido de forma muito rápida. Nós nos conhecemos no meio do ano passado, e já no fim do ano ele me convidou para ir estudar em seu centro de aperfeiçoamento, em Valencia. Logo na sequência, houve uma mudança de estrutura na instituição que dificultou muito as coisas, mas eu continuei estudando e me aperfeiçoando, na expectativa de que daria tudo certo. De repente, chegou um convite para cantar ao lado dele em um concerto na Eslovênia. Nós nos vimos de novo, e, logo após o fim da apresentação, fui direto para Valência, no susto. Estou morando e estudando lá e, desde então, tenho feito alguns concertos com ele. Ele me acompanha de perto, sabe como eu estou me desenvolvendo e tem acompanhado minha evolução. Tem sido uma oportunidade muito bacana e confesso estar surpresa, além de feliz, de ser convidada para atuar como solista e dividir o palco com ele, que é meu ídolo. É, literalmente, um sonho se tornando realidade.

 

 

3) O que o público pode esperar dos concertos desta semana?

 

O público pode esperar momentos sublimes, de interação entre o coro, a solista e a Orquestra, como se estivesse em um outro nível de existência. O programa apresenta uma gama muito grande de emoções que podem ser absorvidas de formas diferentes pelo público, dependendo de como eles irão interpretar e reagir a cada estímulo, mas promete momentos bem intensos e dramáticos. Eu estou aqui falando antes da hora, mas acredito que será muito bonito e surpreendente para as pessoas que costumam vir aos concertos da Osesp. A relação que está sendo desenvolvida no palco entre solista, regente, Coro e Orquestra é especial, então eu realmente acredito que será lindo.

O repertório que faremos, eu mesma nunca vi sendo feito aqui na Sala São Paulo com a Osesp, então primeiramente estou muito honrada de fazer parte, pois eu amo ópera (sou suspeita para falar). Nós selecionamos árias (trechos) que são muito diferentes umas das outras. Eu já havia cantado a obra de Rossini em Valência recentemente, e a ária da Condessa [As Bodas de Fígaro, KV 492, de Mozart] eu já cantei diversas vezes, mas a Donna Anna, da ópera Don Giovanni, será a primeira vez que vou cantar, e estou muito feliz com esta estreia. Descobri nesta semana, que farei esse papel na íntegra no Garsington Opera Festival 2019, em Londres, ao lado da Valentina, que também trabalhará neste festival! Esta personagem é conhecida no meio de cantores de ópera como uma das mais difíceis de Mozart, e eu particularmente tenho que dizer que será um desafio para mim e que eu tenho me esforçado muito. Mas realmente estou muito feliz que essa estreia será com a Valentina e com a Osesp, na Sala São Paulo, devido a todo o histórico da minha relação com o lugar. Eu tenho certeza que, depois dessa estreia, minha performance em Londres será mais emocionante, porque vou me lembrar deste momento aqui. Só de estar neste ambiente e estar sendo tão bem recebida por todos da Osesp, me deixa emocionada e muito feliz. Vou carregar essas emoções e vibrações positivas para o concerto do ano que vem.


WOLFGANG AMADEUS MOZART [1756-91]
As Bodas de Fígaro, KV 492: Abertura [1786]
4 MIN

As Bodas de Fígaro, KV 492: E Susanna non vien... Dove sono [1786]
(Ária da Condessa)

7 MIN

Don Giovanni, KV 527: Crudele!... Non mi dir [1787]
(Ária de Donn'anna)

7 MIN

 

GIOACCHINO ROSSINI [1792-1868]
La Gazza Ladra: Abertura [1817]
10 MIN

O Cerco de Corinto: Giusto ciel, in tal periglio [1826]
(Ária de Pamira)

4 MIN

Semiramis: Bel raggio lusinghier [1823]
(Ária de Semiramis)

7 MIN

 

LUDWIG VAN BEETHOVEN [1770-1827]
Sinfonia nº 5 em dó menor, Op.67 [1804-8]

ALLEGRO CON BRIO
ANDANTE CON MOTO
ALLEGRO (ATTACCA)
ALLEGRO

31 MIN


O programa aborda três compositores que criaram um nicho especial na história da música: dois particularmente dotados para a música vocal e um que não tinha grande afinidade com a ópera. Os três fizeram enorme sucesso na capital da música no século XIX, Viena. O primeiro, Mozart, foi  o representante máximo do estilo clássico, que alçou até seu mais alto patamar; o segundo, Rossini, considerado seu herdeiro direto, defendeu com brilho a bandeira do classicismo até sair de cena precocemente, no auge da fama, por achar que não havia mais lugar para sua música no mundo que o circundava; o terceiro, Beethoven, foi o que realizou a transição entre o classicismo e o romantismo, sendo até hoje o mais emblemático de todos os compositores, símbolo do gênio torturado.


Seis anos antes da morte de Beethoven, Rossini visitou Viena, e fez questão de encontrar seu ídolo, já então uma celebridade. Beethoven parabenizou o italiano por sua ópera O Barbeiro de Sevilha, não sem acrescentar uma pequena alfinetada, como era seu hábito: recomendou que se ativesse a comédias, mais afeitas à sua personalidade. Pouco tempo depois, o nome de Rossini viria a ser mais festejado na Alemanha do que o do próprio Beethoven.


O italiano nutria grande admiração pelos dois alemães. Chegou a confessar: “Beethoven tomo duas vezes por semana, Mozart todos os dias. Beethoven é um colosso que muitas vezes te dá uma cutucada nas costelas, enquanto Mozart é sempre adorável; é que o último teve a chance de ir muito jovem para a Itália, numa época em que ainda cantavam bem”. É bem verdade que Mozart tinha uma capacidade melódica que encontrou igual apenas em Rossini, mas foi Beethoven quem elevou a harmonia ao trono da música.

 

O nome de Mozart já era cultuado quando Beethoven pisou pela primeira vez em Viena, aos 16 anos. Especula-se que teriam se encontrado e até que o mais jovem teria tido aulas com o mais velho. Ainda que não seja verdade, a influência da música de Mozart em Beethoven é evidente e inescapável.

 



É comum que aberturas de ópera adquiram vida própria, sendo executadas como peças sinfônicas desvinculadas de seu contexto. Como gênero, elas têm a função de preparar a plateia para a ação que está por vir, oferecendo uma ambientação harmônica que situa as tonalidades, temas principais e caráter da obra. A abertura de As Bodas de Fígaro, de Mozart, é espirituosa, leve, sincopada, cheia de passagens virtuosísticas. As muitas escalas que se cruzam prenunciam a intensa movimentação de personagens que se atropelam e se desencontram, enquanto tramam uns contra os outros. A ária E Susanna non vien, da mesma ópera, mostra a Condessa Rosina ansiosa à espera de sua aia, enquanto se lembra com nostalgia da felicidade passada. Já Crudel, non mi dir é de Don Giovanni, uma das obras primas do século XVIII. Nela, Donn’Anna pede a Don Ottavio que adiem seu casamento, devido à recente morte do pai. Explica que seu amor continua vívido, mas que gostaria de ter mais tempo para processar o luto.


Reza a lenda que Rossini completou a abertura de La Gazza Ladra como refém de seu produtor, que o trancou num quarto e o impediu de sair até que terminasse a música. Se a história é verídica, temos uma dívida de gratidão para com o carcereiro: La Gazza Ladra é uma das aberturas de ópera mais executadas de todos os tempos, e é repleta de invenções que viriam a ser imitadas no mundo inteiro, como o início com rufar de tambores, de efeito militar e ao mesmo tempo inquietante, ou os temas líricos nos sopros repetidos e retrabalhados com massa orquestral crescente até se tornarem absolutamente enfeitiçadores (ideia retomada posteriormente por Ravel, no famoso Bolero).  


O Assédio de Corinto, da qual foi extraída a ária Giusto ciel, in tal periglio, trata da escolha entre amor e dever. Apaixonada por um sultão turco disfarçado, a desesperada Pamira percebe que foi usada por ele, para infligir a derrota a seus compatriotas, e pede perdão aos céus. Assim como Rosina, na ária de Mozart, ela pensa em tempos mais amenos e lamenta a traição de que foi vítima.


Semiramide é a prova perfeita de que Beethoven estava errado ao afirmar que Rossini deveria se restringir a óperas cômicas. Em estilo virtuosístico, dentro da mais pura tradição do alto barroco, foi escrita em 1823, como vitrine para a mulher do compositor, Isabella Colbran. É cheia de passagens difíceis, saltos, trilos e ornamentos que, décadas antes, teriam feito a felicidade dos castrati. Em Bel Raggio Lusinghier, Semiramide, rainha da Babilônia, canta sua alegria pela volta de Arsace, jovem comandante por quem está apaixonada, sem se dar conta de que ele é seu filho.


Para terminar um programa em que o lirismo e a melodia dominam, nada mais apropriado do que a Quinta Sinfonia, peça em que a escrita instrumental atingiu seu ápice, e em que o desenvolvimento motívico é levado às últimas consequências. Não deixa de ser uma ironia que as quatro notas de abertura, descritas como as “batidas do destino à porta”, sejam hoje o fragmento musical mais citado dentre todas as obras clássicas, apesar de não constituírem propriamente uma melodia. É esse motivo, desenvolvido contra um segundo sujeito cantábile, que forma o principal tecido do primeiro movimento.


O segundo movimento apresenta um tema duplo com variações. O terceiro, um scherzo con trio fantasmagórico, com tema de abertura que relembra a Sinfonia 40, de Mozart, traz de volta o motivo do destino, mas termina de maneira luminosa. Finalmente, o quarto movimento, com seu quê de hino, é exuberante e esperançoso. O clima turvo do primeiro movimento é relembrado, mas as nuvens se dispersam em um final vitorioso e impetuoso. Com uma instrumentação peculiar para a época, que inclui piccolo, trombones e contra-fagote, a Quinta Sinfonia acabou por se tornar um símbolo da forma, e estabeleceu o modelo que viria a ser referência para todos os compositores posteriores.

 

LAURA RÓNAI é doutora em música, responsável pela cadeira  de flauta transversal

na UNIRIO, e professora no programa de  Pós-Graduação em Música.

É também diretora da Orquestra Barroca da UNIRIO.


Leia o ensaio "A Era de Beethoven", de Arthur Nestrovski, aqui.


Leia um excerto do ensaio "Prefácio a Vida de Rossini", de Lorenzo Mammì, aqui.


Leia o ensaio "Signor Tambourossini", de Larry Wolff, aqui.