Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
8 9101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
06
out 2017
sexta-feira 21h00 Paineira
Osesp 60: Pedro Neves e Luíz Filíp


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Pedro Neves regente
Luíz Filíp violino


Programação
Sujeita a
Alterações
Celso LOUREIRO CHAVES
Museu das Coisas Inúteis - Concerto para Violino [Co-Encomenda SP-LX Nova Música, Estreia Mundial]
Ludwig van BEETHOVEN
Sinfonia nº 1 em Dó Maior, Op.21
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SEXTA-FEIRA 06/OUT/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

LOUREIRO CHAVES
MUSEU DAS COISAS INÚTEIS

Concerto Para Violino / CO-ENCOMENDA SP-LX_NOVA MÚSICA, [FUNDAÇÃO OSESP E FUNDAÇÃO GULBENKIAN (LISBOA)]


Museu das Coisas Inúteis, para violino e orquestra, foi composto entre o outono de 2016 e o inverno de 2017, em cinco movimentos contínuos: “Ordine”, “Antífonas”, “In Tempo di Josquin”, “Os Quatro Evangelistas”, “Ordine (Análise)”. Os movimentos indicam a sequência Lento – Rápido – Lento – Rápido – Lento.


O nome vem do ensaio A Utilidade do Inútil de Nuccio Ordine (de onde vêm também os nomes do primeiro
 e do último movimentos). Se Museu das Coisas Inúteis fosse arquitetura, seria algo como o prédio do Museu
 da História Militar, em Dresden, com a interferência desestabilizadora de Daniel Libeskind. Também em Museu há desestabilizações, embora o compositor não saiba dizer se é a orquestra que interfere no violino com suas interjeições ou se é o violino que interfere na orquestra com suas meditações. O violino conduz a passagem do tempo em Museu; ele é atravessado pelas intervenções
 da orquestra, que também se transforma com as interrupções do violino.


Várias cidades respiram em Museu das Coisas Inúteis. Lisboa – onde ao cruzar a Praça do Comércio o compositor se deu conta que a estrutura da peça estava completa; Manaus – onde Os Quatro Evangelistas tomaram a forma definitiva; Porto Alegre – onde a maior parte da peça foi gestada e composta. E, acima de todas, Montevideo: foi ali que Museu finalmente chegou a ser o que é.


Os nomes de alguns movimentos de Museu das Coisas Inúteis dão a impressão de que se trata de uma peça mística, mas ela está longe disso. “Antífonas” se refere
 aos grafites que os instrumentos aplicam sobre a parede fornecida pelo violino. “Os Quatro Evangelistas” são menos os evangelistas bíblicos do que sua representação em quatro colunas internas da Sagrada Familia de Gaudí. “In Tempo di Josquin” desfigura a música religiosa de Josquin com novos grafites orquestrais e meditações do violino.


Todo o material composicional de Museu das Coisas Inúteis vem de uma sequência de 14 acordes construídos por afinidade interna e que espelham as concepções harmônicas do compositor. Os acordes começam a ser apresentados na imobilidade harmônica de “Ordine”
e concluem sua apresentação na síntese de “Ordine (Análise)”, onde materiais dos outros movimentos também aparecem.


Como em obras anteriores – Estética do Frio III, por exemplo, estreada pelo Quarteto OSESP com Jean-Efflam Bavouzet em 2014 e disponível no Selo Digital Osesp – há citações. A mais presente é o “Benedictus do Sanctus” da Missa Hercules dux Ferrariæ de Josquin que é a base do “In Tempo di Josquin”. Outras citações são mais ocultas. Em “Os Quatro Evangelistas”, o nome de cada evangelista se transformou em fragmento melódico. A Sinfonia nº 1 de Beethoven ecoa no último movimento. Uma memória de um hino de futebol separa o quarto e o quinto movimentos.


Na orquestração de Museu das Coisas Inúteis, madeiras e metais articulam-se de uma mesma maneira: duas flautas agem como uma só entidade e o clarinete baixo fornece-lhes a base; assim com os dois trompetes e o trombone. O clarinete em si bemol aparece nas portas que conduzem um movimento ao próximo. Percussão – que inclui uma parte proeminente para vibrafone –, tímpanos, harpa e celesta podem ser ouvidos em unidade. O piano aparece apenas no penúltimo movimento, fornecendo o ímpeto rítmico e o entorno harmônico. As cordas muitas vezes se colocam como coadjuvantes do violino solista.


Em Museu das Coisas Inúteis, toda a orquestração surge das contingências do violino solista. Nenhum instrumento soaria se já não estivesse pressuposto pelo solista, que conduz os acontecimentos e tem controle sobre eles. O violino é virtuosístico na maneira em que utiliza todo o registro do instrumento e nas meditações lentas que dão coerência ao desenrolar da peça. Museu das Coisas Inúteis são modos de dizer, maneiras de soar, meios de economia e possibilidades de equilíbrio. A essência da peça reside na simbiose entre os instrumentos e na objetividade da contribuição de cada um.



CELSO  LOUREIRO CHAVES é compositor e  professor titular do

Instituto
 de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

 

 

BEETHOVEN
Sinfonia nº 1 em Dó Maior, Op.21

 

Apesar dos esboços iniciais para a composição de uma primeira sinfonia datarem de 1795, somente em 1799 Beethoven os retomou e completou a escrita. (1) Dentre suas famosas “sinfonias ímpares” (a Terceira, a Quinta,
 a Sétima e a Nona), a Primeira é, certamente, a menos conhecida, o que permite uma situação especial para sua escuta. Se por um lado é possível ouvir na peça a maneira consistente com que o compositor absorveu tanto a norma quanto os desvios do classicismo de Haydn e Mozart, (2) por outro, há hoje a possibilidade de organizar a escuta a partir de um referencial que o próprio Beethoven estabeleceria nas primeiras décadas do século XIX. Nesse sentido, procedimentos composicionais que poderiam ser apenas indícios de potencialidades levadas a cabo no futuro podem ser ouvidos aqui também como traços inequívocos de um estilo muito próprio, precocemente maduro em seu contexto.


A curiosa introdução do primeiro movimento, que abre com um acorde de dó maior desestabilizado por sua sétima, diversas assimetrias no equilíbrio das frases e o andamento acelerado do “Menuetto” − que fazem com que o terceiro movimento já possa ser visto como o primeiro scherzo sinfônico do compositor alemão −, são apenas alguns exemplos das inúmeras particularidades da peça. (3)


Ao lado de seu Septeto Op. 20, a Sinfonia nº 1 Op.21 teve sua estreia em abril de 1800, em um programa que contava também com a Criação de Haydn, além de uma sinfonia de Mozart.


1. LOCKWOOD, Lewis. Beethoven: a Música e a Vida. São Paulo: Codex, 2005, p. 177.

2. Elaine Sisman explora referências à Sinfonia nº 41, de Mozart, e à Sinfonia
 nº 97, de Haydn, em seu capítulo “The Spirit of Mozart From Haydn’s Hand: Beethoven’s Musical Inheritance”, incluído no The Cambridge Companion to Beethoven (editado por Glenn Stanley; Cambridge University Press, 2000).

3. Sobre a “aparente irregularidade” nos fraseados, ver DAHLHAUS, Carl. Ludwig Van Beethoven: Approaches to his Music. Trad. Mary Whittall. Oxford: Clarendon Press, 1991.


SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,
coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)
e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.