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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
03
dez 2016
sábado 16h30 Imbuia
Osesp: Antunes e Widmann


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Celso Antunes regente
Carolin Widmann violino


Programação
Sujeita a
Alterações
Alban BERG
Concerto Para Violino
Sergei RACHMANINOV
Sinfonia nº 3 em Lá Menor, Op.44
INGRESSOS
  Entre R$ 42,00 e R$ 194,00
  SÁBADO 03/DEZ/2016 16h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

 

O Concerto Para Violino foi escrito por encomenda do violinista norte-americano Louis Krasner. Na época, Alban Berg estava compondo a ópera Lulu e recebeu a trágica notícia da morte de Manon Gropius, filha de Alma Mahler-Werfel e Walter Gropius, arquiteto fundador da Bauhaus. Muito amigo da família, Berg decidiu homenagear a jovem de dezoito anos e incluiu na partitura do Concerto a dedicatória “Em memória de um Anjo”. Segundo Willi Reich, amigo e biógrafo de Berg, “tanto quanto seja possível transcrever um som musical em palavras […], a obra procura ser um retrato musical da jovem Manon”. 1 

 

Concebido e escrito em aproximadamente cinco meses, o Concerto estreou em abril de 1936, no Palau de la Música, em Barcelona, sob regência de Hermann Scherchen, tendo Louis Krasner como solista. Essa foi a última peça completa composta por Alban Berg, cujo falecimento, três meses antes da estreia, daria ainda um outro sentido para esse réquiem.

 

A peça se divide em dois movimentos, com subdivisões de andamento e caráter: o primeiro, em três seções, ilustra a infância e a juventude de Manon, incluindo também referências a valsas vienenses e a canções populares da Caríntia, região da Áustria na qual a jovem cresceu e onde o compositor a viu pela primeira vez. No segundo movimento (“Allegro ma Sempre Rubato — Adagio”), Berg descreve a doença, o sofrimento, a morte e a ascensão de Manon. A dramaticidade do “Adagio” é reforçada pela citação de um coral de Bach, “Es Ist Genug” [Já Basta], da cantata “O Ewigkeit, du Donnerwort” [Ó Eternidade, Palavra Estrondosa] BWV 60.

 

Berg é sem dúvida o mais romântico dos três compositores da chamada Segunda Escola de Viena (da qual fazem parte também Anton Webern e Arnold Schoenberg). Seu uso do dodecafonismo no Concerto Para Violino é bastante original. A série escolhida é formada por duas tríades 2 maiores e duas menores e completada por quatro notas em intervalo de tons inteiros — si, dó sustenido, mi bemol e fá. Desse modo, tem-se uma série atonal com “características tonais”, configurando o “sentido duplo” da obra de Berg, como ressalta o filósofo Theodor Adorno, que foi aluno do compositor. 3 A intensidade e o caráter expressivo, a combinação de tonalismo e sistema dodecafônico e a beleza de suas melodias, com citações de Bach e de melodias folclóricas austríacas, são alguns dos aspectos que fizeram do Concerto Para Violino uma das peças mais apreciadas da Segunda Escola de Viena. [2014]

 

SILVIA OCOUGNE é compositora e mestre pelo New England Conservatory of Music, em Boston. 

 

 

1 Reich , Willi. The Life and Work of Alban Berg. Trad. Cornelius Cardew. Nova York: Da Capo, 1981.

 

2 Tríade: acorde tonal elementar formado pela sobreposição de terças (dómi- sol, por exemplo). (N.E.)

 

3 Adorno , Theodor. Berg: O Mestre da Transição Mínima. Trad. Mário Videira. São Paulo: Editora Unesp, 2010.


 

Até ontem tratado como dinossauro do Romantismo, Sergei Rachmaninov é um dos compositores mais espetacularmente reabilitados pela crítica recente. Sua identidade sonora é marcante: bastam dez segundos de música — não, basta um de seus acordes cor de chumbo — para sabermos quem é seu autor. Tal identidade foi exatamente o que faltou a supostas vanguardas que feneceram, ofuscadas pela popularidade que hoje se estende inclusive às suas obras sacras.

 

Rachmaninov abandonou a Rússia em 1917 e teve de se reerguer financeiramente mergulhando numa brilhante carreira de pianista, o que prejudicou seu lado compositor. Entre 1918 e o ano da sua morte, 1943, completou apenas seis obras. Começou a trabalhar na Sinfonia nº 3 durante as férias de 1935, na Suíça, mas só pôde terminá-la um ano depois, quando foi estreada pela Orquestra de Filadélfia, regida por Leopold Stokowsky. O compositor estava presente e descreveu a recepção como “azeda”.

 

A saudade da Rússia imbuiu a música de Rachmaninov de lembranças do canto ortodoxo, que pairam sobre o primeiro movimento como um ícone religioso. O caráter desolado do primeiro tema é contrastado pela opulência sensual e evolução psicológica do segundo. O desenvolvimento é uma sucessão de painéis escuros, que culminam numa minifantasia sobre o “acorde de Tristão” [no fatídico início de Tristão e Isolda, de Wagner]. A recapitulação gradualmente exorciza a tensão acumulada.

 

Uma brisa oriental (influência de Rimsky-Korsakov?) sopra sobre a melodia do segundo movimento, tocada pelo violino, que dá margem a uma gigantesca expansão. Num toque de mestre, ele insere um scherzo como seção contrastante, possuída por uma energia rítmica quase prokofieviana.

 

A aparência despreocupada do “Finale” é enganosa. Na verdade, é o movimento mais complexo: o ágil tema inicial é encurtado a cada aparição e, em reverso, os episódios assumem cada vez mais peso. Como em outras obras, um fugato faz as vezes de desenvolvimento.

 

Rachmaninov era incapaz de rezar pelo credo de outrem. Se sua linguagem é familiar, seu universo psicológico é único e dita suas próprias regras, como nesta obra admirável. [2007]

 

FÁBIO ZANON é violonista e professor da Royal Academy of Music de Londres e autor de Villa-Lobos (Coleção “Folha Explica”, Publifolha, 2009). Desde 2013, é o coordenador artístico-pedagógico do Festival de Inverno de Campos do Jordão.