Temporada 2024
abril
s t q q s s d
<abril>
segterquaquisexsábdom
25262728293031
123 4 5 6 7
8 9101112 13 14
151617 18 19 20 21
222324 25 26 27 28
293012345
jan fev mar abr
mai jun jul ago
set out nov dez
PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
10
jun 2016
sexta-feira 21h00 Araucária
Osesp: Bohlin rege Bates e Bach


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Ragnar Bohlin regente
Mason Bates laptop
Jonathan Dimmock órgão
Erika Muniz soprano
Silvana Romani contralto
Natália Áurea soprano
Luiz Guimarães tenor
João Vitor Ladeira barítono
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
Mason BATES
Mass Transmission
Johann Sebastian BACH
Missa Brevis
INGRESSOS
  Entre R$ 42,00 e R$ 194,00
  SEXTA-FEIRA 10/JUN/2016 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Leia o ensaio O Apetite Onívoro de Mason Bates, por Thomas Way.

Notas de Programa

Mass Transmission [Transmissão de Missa] conta a história real de uma família que está separada e se comunica com o auxílio das primeiras transmissões de rádio. É um tipo de Skype dos anos 1920: numa ponta da linha está uma menina holandesa, enviada para as Índias Orientais para trabalhar como pajem no governo colonial; na outra está sua mãe, a milhares de quilômetros de distância, no escritório dos Telégrafos Holandeses. Composta para coro, órgão e música eletrônica, a peça transmite o calor das emoções humanas que pulsa num meio mecânico de comunicação.

 

Dois textos obscuros são musicados. Por acaso, encontrei uma velha publicação do governo holandês que compilou transcrições dessas conversas. O texto apresenta a perspectiva da mãe e forma os movimentos externos. O movimento central revela o ponto de vista da filha, embrenhada na vida selvagem em Java, e é tirado das memórias de Elizabeth van Kampen sobre os anos em que lá viveu.

 

O coro entoa esses textos, formando o “calor animal” da peça, enquanto a eletrônica nos dá um “pano de fundo musical” composto por estática e ruídos de ondas curtas. O órgão conecta os dois elementos: um apoia o coro; outro apresenta a música em estilo tocata dos Telégrafos Holandeses.

 

O maior desafio foi criar algo original, emocionante e provocador dentro dos limites do coro. Adoro música coral — fui apresentado à música clássica pelo coral da escola St. Christopher, na Virgínia —, mas o meio impõe desafios consideráveis. Ao contrário dos instrumentistas, os cantores produzem os próprios sons, de forma que o compositor não pode simplesmente lhes jogar uma sucessão de notas.

 

A maior adrenalina foi compor para o organista superstar Paul Jacobs. Afinal, o órgão é o sintetizador mais antigo do mundo, o único instrumento capaz de se sobrepor a uma orquestra. A participação de Paul na peça influenciou tremendamente o processo de composição. Imaginem: uma tocata insana evocando o mundo mecanicista do telégrafo.

 

E, sim, foi igualmente interessante compor para o Coro da Sinfônica de São Francisco. Ragnar Bohlin, regente titular, deu o pontapé inicial: ao ouvir o coro na estreia mundial de The B-Sides [Os Lados B] e o conjunto vocal Chanticleer estrear Sirens [Sirenes], em 2009, ele imediatamente sugeriu que apresentássemos uma peça a Michael Tilson Thomas. Foi a terceira obra que compus tendo Michael em mente — depois de B-Sides e Mothership [Nave Mãe] —, e foi uma alegria escrevê-la. Talvez seja minha peça mais pessoal.

 

Mass Transmission é dedicada a minha mulher, Jamie, e a meu filho, Toliver, que estão sempre “do outro lado da linha” quando telefono de várias partes do mundo.

 

MASON BATES. Tradução de Jayme da Costa Pinto. 

 

 

............................

 

 

A missa luterana, assim como a católica, é composta por um conjunto de textos fixos, repetidos semanalmente (ordinarium), e por textos variáveis, referentes às datas específicas do calendário litúrgico (proprium). Na missa luterana da época de Bach, os cinco textos do ordinarium — “Kyrie”, “Glória”, “Credo”, “Sanctus” e “Agnus Dei” — eram cantados em latim; os do proprium, em alemão. Em ocasiões especiais, o ordinarium era cantado de modo polifônico (ou seja, a várias vozes), mas na Alemanha do século xviii era mais comum que apenas o “Kyrie” e o “Glória” fossem cantados dessa maneira, para constituir a assim denominada Missa Brevis. Essa prática era adotada nas principais igrejas de Leipzig, quando Bach lá chegou, em 1721.

 

É interessante notar que, na primeira década em Leipzig, Bach apenas tenha copiado e dirigido obras latinas da pena de seus antecessores (Kuhnau, Pez, Wilderer). A primeira obra de Bach sobre texto latino é a Missa Brevis em Si Menor, de 1733. Esse hiato curioso possivelmente se explica como parte de um longo processo de aprendizado, que, segundo o método setecentista da imitatio, inclui a cópia de modelos para incorporar o estilo dos mestres. Das cinco missas breves compostas por Bach entre 1733 e 1739, esta em Si Menor é a mais ambiciosa, tanto pelo número e pela dimensão de seus movimentos quanto por sua orquestração, que inclui uma larga seção de sopros. 

 

A grandiosidade da orquestração da Missa explica- se pela circunstância da composição: a peça foi dedicada a Augusto iii, Príncipe Eleitor da Saxônia, acompanhando o pleito de Bach à obtenção do título de Compositor da Corte em Dresden (com o que foi efetivamente agraciado). É certo que Bach tinha em mente a altíssima qualidade dos músicos que integravam a Capela da Corte (Hofkapelle) de Dresden. Contudo, não é certo que a peça tenha sido apresentada enquanto viveu. 

 

A Missa Brevis tem 12 partes. O “Kyrie” divide- se em três: “Kyrie i”; “Christe”, “Kyrie ii”. No “Kyrie i”, Bach utiliza uma fuga de grandes dimensões com orquestra obbligato1, gerando contraste com o “Christe”, um belo dueto em estilo italiano. O “Kyrie ii” orienta-se, retrospectivamente, para a polifonia vocal seiscentista, dispensando assim um acompanhamento orquestral independente. O “Glória” alterna cinco movimentos corais, em estilo antigo, com outros quatro solos vocais, em estilo italiano. Com isso, a obra oferece solos a todas as cinco vozes, assim como partes obbligato a todas as vozes da orquestra.

 

Por volta de 1745, Bach empregou três movimentos do “Glória” em sua cantata BWV 191 (Gloria in Excelsis Deo) e, nos últimos anos de vida (provavelmente entre 1748 e 1749), adicionou à obra de 1733 os outros movimentos do ordinarium, para constituir, assim, a magistral Missa em Si Menor (BWV 232), sua única versão completa da missa (missa tota). Como a obra de 1733 foi inteiramente incorporada à Missa de 1748-9, ela não recebeu numeração independente no catálogo BWV. Sendo assim, para distingui-la da missa completa, é frequente o uso de numerações como BWV 232a ou 232-1.

 

MÔNICA LUCAS é professora de História da Música na ECA-USP. 

 

1 Com essa indicação, o compositor pede que a passagem seja interpretada seguindo rigorosamente a partitura. [N.E.]