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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
12
nov 2015
quinta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Ryan Wigglesworth e Bevan


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Ryan Wigglesworth regente
Sophie Bevan soprano


Programação
Sujeita a
Alterações
Richard STRAUSS
Quatro Últimas Canções
Edward ELGAR
Sinfonia nº 1 em Lá Bemol Maior
INGRESSOS
  R$ 10,00
  QUINTA-FEIRA 12/NOV/2015 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil

Leia o ensaio Richard Strauss, de Edward Said.

Notas de Programa

 

Estamos diante de um dos monumentos da música ocidental. Nos cerca de 20 minutos das Quatro Últimas Canções, de Richard Strauss, encontram- se dois séculos, o xix e o xx, e quase 200 anos de tradição de Lieder [canções]. Distantes das canções estróficas dos salões burgueses ainda cheirando ao Ancien Régime, mas descendentes da sufocante inquietação amorosa dos Wesendonck Lieder, de Wagner, a composição de Strauss foi influenciada pelas versões orquestradas das mélodies de Berlioz e é mais profunda do que as incursões de Chausson ou Ravel pelo gênero. Finalmente, talvez seja até mesmo parente remota das canções para voz e orquestra de Alberto Nepomuceno, mais “modinheiras” por natureza. Esse é o lugar das Quatro Últimas Canções no nem tão vasto mundo do repertório para voz solista e orquestra.

 

“Estamos diante da morte?”, pergunta Strauss. Talvez. E se esse texto pudesse ser acompanhado de música, ouviríamos agora quiçá o mesmo acorde que o compositor escolheu para acompanhar as últimas palavras da canção “Im Abendrot” [No Pôr-do-Sol]: ao pronunciar “der Tod” (“a morte”), Strauss faz uma referência a si mesmo, ou melhor, à pessoa que 60 anos antes compusera Morte e Transfiguração. Nesse encontro entre o homem de 24 anos e o de 84, talvez resida uma das mais importantes reflexões sobre as Quatro Últimas Canções.

 

Falou-se muito que esse conjunto de canções tratava da morte, da visão que um grande artista já bem idoso teria dessa passagem ao “desconhecido”. Porém, da mesma forma que o ciclo foi agrupado após a morte do compositor, fora até da ordem de composição (a primeira canção a ser terminada foi justamente a que figura como última, “Im Abendrot”), muito pode ser discutido sobre o sentido dessas peças para um homem como Strauss, vivendo num tempo que talvez parecesse “emprestado”. Junte-se a isso o fato de que o compositor já parecia ter deixado escrito seu testamento musical, com a ópera Capriccio. Como definir então a relação e a importância entre palavra e música?

 

Estamos diante de um calmo observador da mudança, e não da voz trovejante de um artista romântico, último grande mestre do romantismo europeu num desafio tardio à inexorável mudança da sociedade. Realmente, pouco do mundo que era familiar a Richard Strauss e à maior parte da civilização ocidental ainda existia. A Segunda Guerra Mundial impusera o fim brutal de um modo de vida, de toda uma organização social. A dor, o ódio e a revolta pelos milhões mortos quase que inexplicavelmente — e, com certeza, indesculpavelmente — ainda ardia na alma da Europa e do resto do mundo. Strauss, cuja relação com o nazismo é até hoje controversa, viveu seus últimos anos obcecado por sua desnazificação. Buscava ver sua música e a si mesmo inocentados de um passado pontuado pela colaboração e pela proximidade com o nacional-socialismo e seus líderes (ao menos até determinado momento). Estaria o compositor anunciando ao mundo uma passagem a um futuro desconhecido?

 

Estamos prestes a escutar não ao homem, e sim sua alma, sua música. Embora na vida de Richard Strauss suas posições políticas e possíveis crenças sejam um assunto bem menos espinhoso do que com Wagner, Hans Pfitzner ou Carl Orff (para citar apenas três compositores da mesma tradição), entender sua música — e desses outros — como expressão do divino em cada um de nós é uma grande forma de entender como a arte se manifesta. Assim é com o poema que abre o ciclo, “Frühling” [Primavera], de Hermann Hesse. O corpo humano, mortal, poderia ser percebido como essas “cavernas sombrias” onde a alma está presa por sua forma mortal; de dentro, olha (e sonha) com um cenário de natureza, com a beleza idílica da liberdade. Descrita de forma luxuosa na música de Strauss, essa luz que faz com que tudo brilhe adquire quase o caráter de uma revelação. Se a primavera está presente, ela é muito mais brilhante e mágica do que nos descreveria Schumann, por exemplo. O poema conclui a sugestão de que, exposto a esse milagre, o ser se reencontra — um “reconhecimento” enfatizado pela palavra wieder (novamente). O ciclo de canções se inicia onde morte e vida se confundem.

 

O inevitável outono é o tema da segunda canção, “September” [Setembro]. Igualmente composta sobre um poema de Hesse, é interessante notar a escolha de um mês que, embora indique a proximidade do inverno, ainda está rodeado das flores e cores nascidos na primavera e no verão. Este se faz presente no poema, sorrindo ao ver as folhas que caem uma a uma. Possivelmente, o verão (que resiste por meio das rosas) sabe que a “dor” da estação mais associada com a morte é apenas passageira; em pouco tempo, tudo estará novamente repleto de vida.

 

A transição poética entre a segunda e a terceira canção é perfeita (ainda que a ordem não tenha sido definida por Strauss). Os “olhos cansados” que se fecham ao final de “September” nos levam ao sono — e ao sonho — de “Beim Schlafengehen” [Indo Dormir]. O motivo condutor do poema, novamente de Hesse, fala dessa expansão da alma e, numa das linhas vocais mais inspiradas de toda a obra de Strauss, descreve como esta voa livremente em direção a uma espécie de noite mágica onde “vive de mil maneiras”. Nessa descrição da morte, a noite que rodeia tudo, como antes a luz tudo envolvia em “Frühling”, confunde-se com a vida.

 

O ciclo se encerra com o único poema que não saiu da pena de Hesse, “Im Abendrot” [No Pôr-do- Sol], de Eichendorff. Aqui, existe o inegável domínio da morte, sua presença permeia todo caminho sugerido pelo texto e pela música. Com suas melodias, Strauss atravessa a capacidade da palavra e funde os dois autores, Hesse e Eichendorff.

 

Seja em pequenos solos de violino, de flauta ou na linha vocal, ouvimos reminiscências das três canções anteriores, tão sutis que custa percebê-las. Apenas no final aparece a palavra “Tod” [Morte], proferida pela primeira vez no ciclo. Mesmo assim, ela é seguida de uma sugestão de transfiguração por meio da citação de uma frase de oito notas tiradas de Morte e Transfi guração, poema sinfônico que Strauss compusera tantos anos antes. O compositor nos indica que há um novo ciclo ao fim do caminho. Talvez para aquele homem o que realmente importasse, ao final das contas, era a vida.

 

Estamos diante da vida. Um elogio à beleza da vida e à morte como parte inevitável e misteriosa dessa experiência. Pois é muito mais das lembranças, das sensações da alma ao expandir-se de felicidade e paz ou da simples beleza do jardim, e não da desolação da morte tão presente naquele 1948, que tratam as Quatro Últimas Canções. Sim, estamos diante do inexplicável prazer de sentir-se vivo.

 

ANDRÉ HELLER-LOPES é doutor pelo King’s College de Londres e professor da Escola de Música da UFRJ. 

 

 

Ainda que Elgar tenha continuado a escrever obras orquestrais após a estreia de Variações Enigma, em 1899, os primeiros anos da década seguinte foram dedicados à escrita coral. Durante uma estadia em Roma no fim de 1907, Elgar decidiu se concentrar em compor uma sinfonia baseada num material originalmente escrito para quarteto de cordas. A Sinfonia nº 1 foi concluída de volta à Inglaterra, em 25 de setembro de 1908, depois de três meses de trabalho concentrado.

 

Sobre esta peça, escreveu para o compositor Walford Davies: “Não há qualquer programa além de uma ampla experiência da vida humana com uma grande caridade (amor) e uma esperança imensa no futuro”. Numa outra carta, desta vez para o crítico Ernest Newman, Elgar dizia esperar que o ouvinte “identifique sua própria experiência de vida com a música à medida que a ouve se desenvolver”.

 

O grande regente wagneriano Hans Richter, para quem a peça é dedicada, reconheceu sua importância chamando-a de “a maior sinfonia dos tempos modernos” depois da primeira execução, em dezembro de 1908. Nunca uma grande obra para orquestra de Elgar havia obtido tamanho sucesso – nos 12 meses seguintes, a Sinfonia foi executada quase 100 vezes ao redor do mundo.

 

No início do primeiro movimento, os violoncelos e os baixos estabelecem o tom de Lá Bemol e sustentam rufares silenciosos que antecedem um tema em “Andante”, que, em sua originalidade de orquestração – madeiras e violas com trompas usando surdinas –, prende a atenção de imediato. Depois de uma repetição com a orquestra completa, o tema cede lugar para o “Allegro” em Ré Menor, e o movimento embarca em sua longa e intensa jornada. O final vem num milagre musical quando o tema do “Andante” (que o biógrafo de Elgar, Michael Kennedy, chama de ideia fixa) volta.

 

O “Allegro Molto”, agitado e apressado, muda completamente o clima. O tema principal do movimento se acalma lentamente num único acorde sustentado de Fá Sustenido, do qual o terceiro movimento, “Adagio”, parte. Esse mesmo tema ralentado, de profunda beleza, dá ao ouvinte um alívio bem-vindo que Richter corretamente comparou a Beethoven. Antes do fim, um terceiro tema sustenta a intensidade e a serenidade do movimento enquanto um clarinete solo leva ao encerramento.

 

O movimento final começa com menções aos temas que irão aparecer a seguir. Mais lenta, a música proporciona alguns momentos de repouso antes que o tema de abertura da Sinfonia (a tal ideia fixa) comece a ressurgir, num andamento acelerado. Acordes sincopados tentam impedir seu progresso e deter seu voo mas, por fim, nada detém sua apoteose na triunfante conclusão.


ANDREW NEILL é autor de vários artigos sobre Elgar e Richard Strauss e foi presidente da Elgar Society entre 1992 e 2008. Trechos de texto publicado no encarte do CD com a Sinfonia nº 1, de Elgar, com a Filarmônica de Londres sob regência de Vernon Handley (LPO, 2010), republicado sob autorização. Tradução de Rogério Galindo. 

 


PROGRAMA


RICHARD STRAUSS [1864-1949]


Quatro Últimas Canções [1948-9]
- Frühling [Primavera]
- September [Setembro]
- Beim Schlafengehen [Indo Dormir]
- Im Abendrot [No Pôr do Sol]
24 MIN

 


EDWARD ELGAR [1857-1934]


Sinfonia nº 1 em Lá Bemol Maior, Op.55 [1907-08]
- Andante — Allegro
- Allegro Molto
- Adagio
- Lento — Allegro
53 MIN