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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
27
ago 2015
quinta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Guerrero e Tambuco


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Giancarlo Guerrero regente
Tambuco


Programação
Sujeita a
Alterações
Silvestre REVUELTAS
Ventanas
Jan JÄRVLEPP
Garbage Concerto
Silvestre REVUELTAS
La Noche de los Mayas
INGRESSOS
  R$ 10,00
  QUINTA-FEIRA 27/AGO/2015 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

“Amanhã me debruçarei nas janelas para ver que diabos enxergo por elas”, disse Silvestre Revueltas a um amigo. Mais tarde, diria ao mesmo amigo: “Quando compus Ventanas [Janelas], talvez tenha tentado transmitir uma ideia precisa. Agora, passados tantos meses, já não lembro o que era.” Os gracejos do compositor parecem esconder um vago mal-estar. Desde os primeiros compassos da peça, instala-se um clima de presságio e pesadelo, uma sonolência de cujo sopor brotam inesperadas marchas épicas, que nos impelem para um ânimo diferente, como que tirado à força.

 

Escrita logo após o retorno do compositor ao México, depois de uma longa década de estudos e trabalho em Chicago e no Texas, Ventanas pertence à primeira fase da produção orquestral de Revueltas. Mas nela se reconhece a variedade de elementos que marcarão sua produção da década seguinte, tida como mais rebelde: uma festa caótica que amontoa o ritmo de percussões isoladas, melodias que giram em círculo e mudam de rumo, motivos que se encavalam obstinadamente, ambiências de uma saudosa inocência rural, bandas estridentes, heroicas e infaustas, vozes que sussurram em algum recanto, na sombra, e o canto soturno da tuba, que coabita no autor com ares de autorretrato.

 

Diante da imagem de um todo múltiplo e grotesco, a escuta se faz cúmplice da ferramenta à qual o compositor recorre de tempos em tempos: a colagem. Revueltas nos coloca em janelas distintas para, a partir do tormento de sua psique, levar-nos por corredores ruidosos, passagens ou atalhos, à escuta de velhos pregões ou modernos arranques sonoros. É como se o compositor fizesse um retrato musical dos tianguis, mercados populares que fascinavam os primeiros cronistas da Conquista e cuja evolução mestiça deslumbrou Pablo Neruda: “O México está em seus mercados”. Revueltas une sua dor aos carregadores do mercado de La Merced para afogá-la no fermento esbranquiçado que escorre do tonel de pulque.1

 

La Noche de Los Mayas [A Noite Dos Maias] é a suíte orquestral da música que Revueltas escreveu para o filme homônimo de 1939, dirigido por Chano Urueta (1904-79) e com Antonio Mediz Bolio (1884-1957), estudioso da cultura maia, como corroteirista. Eis aí uma conjunção de talentos que sinaliza o boom de criatividade vivido no México depois dos incessantes ajustes da guerra civil que sucedeu a Revolução Mexicana (1910-1917). O ano da morte de Revueltas, 1940, marca também o término do governo de Lázaro Cárdenas e o início da muito singular “revolução institucional” — um regime de partido único, “o extremo-centro”, um amontoado de facções desconexas.

 

O filme é marcado por uma forte influência eisensteiniana, presente na idealização da memória dos povos pré-hispânicos. A narrativa evoca um grupo étnico que permanece escondido na floresta no alvorecer do século XIX, e cujos ritos tradicionais enfrentam a violência da modernidade. Em consonância com um tema cujo tratamento cinematográfico é realizado em pirâmides e templos maias, Revueltas rememora um antigo canto que a tradição maia preserva, o Xtoles — “Ko’one’ex, ko’one’ex palexe’ xikubin xikubin yookol k’iin” [“Vamos, vamos, rapazes, que o sol está se pondo”]. O uso da escala pentatônica se justifica na premissa arqueológica da época, de que as culturas centro-americanas resultavam da imigração asiática que atravessara o Estreito de Bering.

 

Em La Noche de Los Mayas, Revueltas apresenta uma sequência multicolorida que nos faz ouvir a banda de aldeia e o ritmo mestiço da sesquiáltera.2 Há algo de cinematográfico nas melodias e nas harmonias que enfatizam o drama com fisionomia expressionista e orquestração pomposa, como que para acentuar o matiz mágico das celebrações. No movimento final, “Noite do Encantamento”, a exploração de elementos polirrítmicos supera os feitos de Sensemayá (1937-38) [interpretada pela Osesp em 2013]. Aqui, o compositor aglomera sonoridades e ritmos numa arquitetura vertical que não cede enquanto não alcança um êxtase dolente — a expressão maior do delírio revueltiano.
JULIO ESTRADA é compositor, professor na Universidade Nacional do México e autor de Canto Roto: Silvestre Revueltas (Fondo de Cultura Económica, 2012). Tradução de Ivone Benedetti.

1. Bebida alcoólica feita do suco fermentado do agave, consumida tradicionalmente na região da América Central. [N.E.]
2. Figuração rítmica composta de seis notas iguais destinadas a ocupar o lugar de quatro, num compasso simples. [N.E.]

 

 

 

 

Tudo começou num dia ensolarado de 1992, quando eu não tinha nada para fazer. Olhei para a caixa azul de reciclagem na minha cozinha e disse: “Posso fazer algo com isso!”. Em pouco tempo, reuni 27 latas, várias embalagens
de plástico e potes de vidro — indícios da minha dieta de solteiro. Peguei uma baqueta e tentei batucar no fundo das latas, descobrindo que várias delas emitiam sons mais ou menos parecidos e que as de fundo cinzento não tinham bom som. Eliminei essas e continuei com um conjunto de cinco latas com sons bem particulares. Embora não emitissem notas específicas, dava para dizer que compunham um conjunto: aguda, meio aguda, média, meio grave e grave. Grudei as latas num balcão com fita adesiva, e lá elas permaneceram pelos quatro anos seguintes. Como as baquetas repicavam bem nelas, as latas se tornaram meu instrumento favorito de sucata enquanto testava minhas ideias composicionais. Tive sorte de ter vizinhos muito tolerantes e que me incentivavam.

 

Tendo escolhido, quase arbitrariamente, cinco latas, decidi usar uma notação em que cada uma ocupasse uma linha do pentagrama. Da mesma forma, escolhi cinco embalagens de plástico e cinco potes de vidro. Estava prestes a construir meu próprio conjunto de instrumentos de sucata. Acrescentei a esses instrumentos uma maraca feita de lata, três calotas e a própria caixa azul, que servia como bumbo. Brincar de montar um monte de instrumentos feitos de sucata acabou sendo a parte fácil.

 

Mas o que fazer com esses instrumentos estranhos que não tinham qualquer tradição musical? Eu já havia composto Encounter [Encontro], para viola e congas. Por isso, estava acostumado com o desafio de tentar escrever música interessante de percussão para instrumentos não melódicos. Embora viola e congas pudessem ter uma sonoridade rica e bela, esses novos instrumentos não eram bons para tocar notas específicas e eram incapazes de produzir uma linha melódica em legato. Portanto, meu desafio composicional era criar linhas não melódicas que fossem interessantes ritmicamente e que não dependessem da beleza das notas. Falar é fácil. Usando protetores de ouvido na cozinha, fiz experimentos de 1992 a 1995, usando as latas e anotando os fragmentos mais interessantes que conseguia bolar.

 

Fui visitar David Currie, regente da Orquestra Sinfônica de Ottawa, e expliquei a ele o que estava fazendo. Por acaso, estavam procurando uma peça que pudesse expor o naipe de percussão da orquestra. Assim, me inscrevi para receber uma verba de encomenda de composição na Fundação Laidlaw. Fui aceito e subitamente estava escrevendo um concerto para instrumentos de sucata e uma orquestra sinfônica completa.

 

Depois de um tempo, fica tedioso ouvir a bateção da sucata, que nunca soou propriamente muito bem. Por isso, decidi que um movimento lento contrastante seria uma boa ideia. Ao fazer experimentos com garrafas de cerveja com níveis diferentes de água, consegui desenvolver uma boa variedade de alturas, com as quais pude compor música lenta melódica. Incluí ainda um vívido movimento final, usando os mesmos instrumentos do primeiro movimento.

JAN JÄRVLEPP. Tradução de Rogério Galindo.

 

 

 

 

 

PROGRAMA

ALONDRA DE LA PARRA REGENTE
TAMBUCO PERCUSSÃO

 

SILVESTRE REVUELTAS [1899-1940]
Ventanas [Janelas] [1931]
10 MIN

 

JAN JÄRVLEPP [1953]
Garbage Concerto [Concerto de Sucata] [1995]
27 MIN
_____________________________________
SILVESTRE REVUELTAS [1899-1940]
La Noche de Los Mayas [A Noite Dos Maias] [1939]
- Noche de Los Mayas
- Noche de Jaranas
- Noche de Yucatán
- Noche de Encantamiento
30 MIN