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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
26
mar 2015
quinta-feira 10h00 Ensaio Aberto
Ensaio Aberto: Peleggi e Hardenberger


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Valentina Peleggi regente
Ricardo Bologna regente
Hakan Hardenberger trompete
Arthur Nestrovski narrador


Programação
Sujeita a
Alterações
Benjamin BRITTEN
Guia da Orquestra Para os Jovens, Op. 34
Mark-Anthony TURNAGE
From The Wreckage [Dos Escombros]
Maurice RAVEL
Ma Mère l'Oye: Suíte
La Valse
INGRESSOS
  R$ 10,00
  QUINTA-FEIRA 26/MAR/2015 10h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

 

Benjamin Britten não foi o primeiro compositor a criar uma peça sinfônica inspirado pela ideia de apresentar os instrumentos da orquestra de maneira divertida — Pedro e o Lobo, composta em 1936 por Sergei Prokofiev, é talvez o exemplo mais conhecido. Antes ainda, em 1886, o francês Camille Saint-Saëns escrevera O Carnaval dos Animais. Era mais uma brincadeira de férias do que um projeto “pedagógico” — tanto que Saint-Saëns proibiu sua publicação enquanto estivesse vivo —, mas a peça ganhou vida própria.


Em 1946, Britten recebeu do Ministério da Educação britânico a encomenda de escrever a música para um concerto a ser registrado em filme — Instruments of The Orchestra —, e assim nasceu seu Guia da Orquestra Para os Jovens. A esperta estratégia encontrada por Britten foi compor uma série de variações sobre um cativante tema do compositor Henry Purcell (1659-95): o “Rondeau”, de Abdelazar. Após a exposição do tema por toda a orquestra, os naipes são apresentados, um após o outro: flautas e piccolo, oboés, clarinetes, fagotes, violinos, violas, violoncelos, contrabaixos, harpa, trompas, trompetes, trombones e tuba, e, finalmente, grupos distintos de percussão. Em cada uma das variações, Britten explora o tema de Purcell de maneira inventiva. Ao final, a orquestra volta a tocar toda junta, numa “Fuga” virtuosística, iniciada pelo piccolo, seguido pelos outros sopros, então pelas cordas, finalmente pelos metais e pela percussão, até a volta do tema de Purcell, agora tocado pelos trombones, num andamento desacelerado. A peça é pontuada por uma narração, que acaba de ganhar nova tradução em português, por Arthur Nestrovski, reproduzida abaixo.


Em 2013, a Britten-Pears Foundation lançou um aplicativo para iPad dedicado ao Guia da Orquestra Para os Jovens. Com belíssimas ilustrações da artista Sara Fanelli e uma gravação exclusiva pela Royal Northern College of Music Symphony Orchestra, regida por Sir Mark Elder, o aplicativo gratuito atualiza nos termos do século XXI o propósito didático do Guia.


GUIA DA ORQUESTRA PARA OS JOVENS


Senhoras e senhores — e meninos e meninas: O compositor Benjamin Britten escreveu essa música com a finalidade especial de apresentar os instrumentos da orquestra.


Existem quatro grupos de instrumentos: as CORDAS, os SOPROS, os METAIS e a PERCUSSÃO. Cada um desses grupos — ou naipes — reúne instrumentos da mesma família. Isto é: eles fazem aproximadamente o mesmo tipo de som.


As CORDAS são tocadas com um arco, ou então diretamente com os dedos.

Os SOPROS, obviamente, são soprados.

Os METAIS também.

Os instrumentos de PERCUSSÃO são batidos com vários tipos de baqueta, ou então com as mãos.

Agora, antes de mais nada, vamos ouvir um Tema de um grande compositor inglês do período barroco (mais de 400 anos atrás): Henry Purcell. Primeiro tocado pela orquestra inteira e depois por cada um dos quatro naipes de instrumentos.

Os SOPROS são uma espécie refinadíssima de assobio. São feitos de madeira.

Os primeiros instrumentos de METAL foram trompetes e trompas de caça. Esses que vocês vêm, ali ao fundo, são seus descendentes modernos.

As CORDAS, tanto as grandes como as pequenas, são tocadas com um arco, ou tangidas com os dedos. Já sua prima, a Harpa, é sempre tocada com os dedos.

O naipe da PERCUSSÃO inclui tambores, gongos, tamborins — e virtualmente qualquer outra coisa que se possa imaginar. Depois que vocês ouvirem esse grupo, a orquestra inteira vai tocar a melodia de Purcell de novo.

Agora vamos ouvir cada instrumento tocar uma variação própria do tema. O instrumento mais agudo do naipe de Sopros é a voz clara e doce da FLAUTA, com seu irmãozinho agudíssimo, o PICCOLO.

Os OBOÉS têm um som gentil e lamentoso, mas também podem soar enérgicos, se é isso que quer o compositor.

Os CLARINETES são muito ágeis. Também produzem um som lindamente ligado e ameno.

Os FAGOTES são os maiores membros do naipe dos Sopros; por isso, têm a voz mais grave.

Quem têm as vozes mais agudas da família das Cordas são os VIOLINOS. Eles se dividem em dois grupos: Primeiros e Segundos.

As VIOLAS são um pouco maiores que os violinos, então têm um tom mais grave.

Os VIOLONCELOS cantam com uma voz muito calorosa e cheia. Escutem só como é bonita!

Os CONTRABAIXOS são os avós da família das Cordas, com vozes mais pesadas, murmurantes.

A HARPA tem 47 cordas e sete pedais para mudar a altura das notas.

A família dos Metais começa com as TROMPAS — embora há quem diga que são instrumentos de Sopro. Elas hoje são feitas de um tubo de metal, enrolado em si.

Imagino que todos vocês conheçam o som dos TROMPETES.

Os TROMBONES têm vozes pesadas e metálicas. A TUBA é mais pesada ainda.

Há um número enorme de instrumentos de PERCUSSÃO. Não dá para mostrar todos, mas vamos aos mais comuns, começando com os TÍMPANOS, depois o BUMBO e os PRATOS, o TAMBORIM e o TRIÂNGULO, a CAIXA e as CLAVES, o XILOFONE, as CASTANHOLAS e o GONGO e, antes de tocarem todos juntos, o CHICOTE .

Passamos pela Orquestra inteira, pedaço por pedaço. Agora vamos por todos juntos numa Fuga. Quer dizer: os instrumentos entram uns depois dos outros, na mesma ordem de antes, começando com o Piccolo. No final, os Metais tocam o lindo tema de Purcell, enquanto todos os outros seguem tocando a fuga de Benjamin Britten. Aproveitem!


Texto de narração da obra "Guia Orquestral para a Juventude, Op.34": Eric Crozier
Tradução e adaptação: Arthur Nestrovski



Dentre os intérpretes de música clássica — e a intenção é mesmo escrever “clássica” —, os trompetistas são quem tem maior probabilidade de ter passado por uma formação mais sinuosa e híbrida. Enquanto violinistas e pianistas, mesmo hoje em dia, podem facilmente permanecer dentro do repertório clássico para desenvolver suas carreiras, para um trompetista isso normalmente seria uma sandice, especialmente se ele ou ela deseja ser solista. Exceto por uns poucos concertos para trompete conhecidos do século XVIII (como os de Telemann, Haydn e Hummel), o trompete teve de esperar até que o século XX já estivesse avançado para obter sucesso como instrumento solo. Sua ascensão tem muito a ver com sua forte presença no jazz e na música popular, com os respectivos nomes de destaque — Bix Beiderbecke, Louis Armstrong, King Oliver e, um pouco mais tarde, Dizzy Gillespie e Miles Davis. Esses poderosos legados incentivaram trompetistas de bandas marciais, especialmente nos Estados Unidos, a ampliar seus horizontes para incluir neles o jazz. Da mesma maneira, compositores que cresceram no mundo do jazz, do rock e das fusões agarraram a chance de colaborar com esses instrumentistas. É essa a linhagem que está por trás de From The Wreckage [Dos Escombros], o concerto para trompete de Mark-Anthony Turnage.

Turnage nasceu e cresceu nos subúrbios de Londres numa época em que o jazz estava entrando em sua fase mais experimental e em que o rock estava começando a dominar o mundo do pop. Mas, de maneira incomum, ele cresceu ouvindo principalmente música clássica. Seus encontros com o jazz e com a música soul americana vieram relativamente tarde, no final da adolescência, mas o efeito sobre ele foi sísmico. Elementos desses estilos e, não menos importante, música inspirada por essas fontes, mas cujas pegadas não eram necessariamente fáceis de rastrear, tiveram um impacto imediato e duradouro. Suas ousadas Night Dances [Danças da Noite] (1981) foram uma resposta explícita à fonte recém-descoberta. O solo de trompete com surdina no terceiro movimento é um aceno deliberado a Miles Davis; o acompanhamento orquestral, puro Gil Evans.

Turnage estudou no Royal College of Music com Oliver Knussen e, em 1983, foi para os Estados Unidos como bolsista do Tanglewood Music Center, onde trabalhou com Hans Werner Henze e Gunther Schuller. Naquela época, já tinha obtido sucesso razoável como compositor. Ele voltou a Tanglewood como compositor residente para o Festival de Música Contemporânea de 2006, durante o qual foi executado seu Blood on The Floor [Sangue no Chão], criação inspirada em Francis Bacon e a primeira na qual Turnage incorporou músicos improvisadores de jazz.

O movimento final de Blood on The Floor é uma versão mais curta de um concerto completo para dois trompetes, Dispelling The Fears [Dissipando os Temores], que estreou com a Philharmonia Orchestra em outubro de 1995; os solistas foram o trompetista escocês John Wallace e o ainda jovem solista sueco Hakan Hardenberger.


Embora Hardenberger não tenha histórico com o jazz, pela experiência dele com Dispelling The Fears parecia lógico que o trompetista acabasse encomendando uma obra a Turnage, que, por sua vez, tem sido especialmente ativo na escrita de concertos para todo tipo de instrumento. O concerto tem um único movimento, dividido, grosso modo, em terços. No primeiro e no terceiro terços, Turnage aproveita as diferenças de tom e de alcance de dois dos “irmãos gêmeos” do trompete que são ligeiramente menos comuns: o flugelhorn, com seu timbre mais adocicado e sombrio, e o trompete piccolo, que é brilhante e resplandecente.

O título — Dos Escombros — indica as origens da peça em um lugar emocionalmente difícil, que é deixado para trás à medida que o concerto prossegue, crescendo gradualmente, com o solista passando do sombrio flugelhorn para o trompete standard e para o trompete piccolo. A orquestração é em geral usada como um grande corpo que fornece uma fundação harmônica rica, com algumas seções reagindo de vez em quando como um coro para o solista.


O começo da peça é marcado “velado e espinhoso” para a orquestra, e apenas “espinhoso” para a parte do solo, que cobre mais de duas oitavas em uns poucos compassos desconexos e nitidamente introdutórios. Acordes sustentados levam à parte principal da primeira seção. A melodia melancólica das trompas antecipa o ânimo languidamente abatido do flugelhorn. Perto do fim do trecho, a percussão inicia um contínuo toc-toc, levando ao segundo terço da peça, quando aparece o trompete standard. Essa seção intermediária contém vários episódios contrastantes, tanto introspectivos quanto agressivos, e inclui um solo improvisado, “bastante recortado — com muitos acentos e trechos rápidos”. Depois de alguns compassos apenas para a orquestra, o solista assume o trompete piccolo para o terço final da peça, que revisita o caráter espinhoso do início, mas termina em calma resignação, na estratosfera.


ROBERT KIRZINGER é editor dos cadernos de notas de programa da Sinfônica de Boston e do Festival de Música Contemporânea de Tanglewood. Tradução de Rogério Galindo.

BENJAMIN BRITTEN
Guia da Orquestra Para os Jovens, Op.34 (Variações e Fuga Sobre um Tema de Purcell) [1946]
- Tema
- Variação 1: Flautas e Piccolo
- Variação 2: Oboés
- Variação 3: Clarinetes
- Variação 4: Fagotes
- Variação 5: Violinos
- Variação 6: Violas
- Variação 7: Violoncelos
- Variação 8: Contrabaixos
- Variação 9: Harpa
- Variação 10: Trompas
- Variação 11: Trompetes
- Variação 12: Trombones e Tuba
- Variação 13: Percussão
- Fuga
19 MIN

MARK-ANTHONY TURNAGE
From The Wreckage [Dos Escombros] [2004]
15 MIN
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MAURICE RAVEL
Ma Mère l'Oye: Suíte
29 MIN


La Valse
12 MIN