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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
19
mai 2015
terça-feira 21h00 Recitais Osesp
Recitais Osesp: Éric Le Sage e Frank Braley


Éric Le Sage piano
Frank Braley piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Robert SCHUMANN
Seis Estudos em Forma de Cânone, Op.56
Claude DEBUSSY
La Mer
Wolfgang A. MOZART
Sonata para Dois Pianos em Ré Maior, KV 448
Francis POULENC
Sonata para Dois Pianos
INGRESSOS
  Entre R$ 71,00 e R$ 92,00
  TERÇA-FEIRA 19/MAI/2015 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

Depois da estreia de La Mer [O Mar], em outubro de 1905, o crítico M. D. Calvocoressi julgou reconhecer “uma nova fase na evolução do sr. Debussy: a inspiração da obra é mais viril, suas cores mais francas, seus contornos mais acentuados”.1

 

Mais de um século depois desse comentário, ideias como “virilidade” e “franqueza” ainda nos parecem algo alheias à música de Debussy; o tom evanescente do Prelúdio Para a Tarde de um Fauno (1894) continua a predominar na imagem que temos do compositor.


Embora La Mer seja uma obra tipicamente debussyana na sua capacidade de evocar efeitos de água, de sol, de sombra e de luz, chama de fato a atenção que o primeiro e o terceiro de seus movimentos não recusem a retórica sinfônica do final de efeito, harmonicamente satisfatório e conclusivo.


Essa dicção impetuosa — e mesmo violenta — haverá de ser notada com mais facilidade numa transcrição para dois pianos. Ainda que se percam as cintilações e as voragens da grande orquestra, sobressai na audição o que há de rigoroso, de arquitetado, numa obra tão fluente e persuasiva. O recurso quase obsessivo a motivos breves, de quatro notas, não mais se cobre das pedrarias da orquestra. Torna-se mais nítida, sem dúvida, a montagem desse quebra-cabeça, desse dominó em que frases se levantam do grave ao agudo e recaem para o grave, num movimento de espelho, como ondas que se formam e quebram em sucessão.


Elementos circulares, em sobe e desce, ao lado de finalizações efetivas, resolvendo tensões de uma vez por todas: La Mer concilia, na verdade, duas tendências na música sinfônica francesa do início do século XX. Tratava-se de enfrentar a herança da “forma cíclica” — a grande obra nascida de uma célula única, na lição de Liszt aproveitada por César Franck, Camille Saint-Saëns e Vincent d’Indy — e a tradição francesa da música de balé, com seus “quadros”, personagens, aparições, vinhetas e volteios.


Entre sinfonia e dança, entre a transfiguração dos temas e o frêmito das repetições, entre correnteza e brisa, La Mer surge como uma obra sem paralelo, milagre de coerência e instabilidade, de estrutura e de capricho.


Os Seis Estudos em Forma de Cânone, de Robert Schumann, provêm de um período (os anos de 1844-5) em que o compositor se debruçou sobre a técnica de contraponto de Bach. O uso do cânone, escrita em que duas ou mais vozes se imitam bem de perto, não resulta — nas mãos de um poeta como Schumann — em aridez acadêmica. O encanto dessas peças, originalmente escritas para um piano, ao qual se adaptava um segundo teclado a ser acionado com os pés, não passou despercebido a Debussy, que as transcreveu para dois pianos. A primeira peça, lembrando as invenções a duas vozes de Bach, não terá também, nessa leitura debussyana, um quê do “Doctor Gradus ad Parnassum”, a primeira página de Children’s Corner, do compositor francês?


Foram muitas as composições de Mozart para um único instrumento de teclado a quatro mãos. Para dois pianos, entretanto, o catálogo Köchel registra apenas esta irresistível e vivíssima Sonata em Ré Maior, KV 448, de 1781, e a complexa e grave Fuga em Dó Menor, KV 426, bem ao estilo de Bach. Talvez por essa vizinhança, o musicólogo Alfred Einstein considera que “essa sonata aparentemente superficial e deliciosa traz a marca das obras mais profundas que Mozart jamais compôs”.2 Profunda? Outro crítico, Arthur Hutchings, não vê razão para esse adjetivo; de fato, esta é uma obra extrovertida, liberando disposição por todos os poros.3


Superficial ou profundo? A oscilação vem sempre à baila quando se fala de Francis Poulenc. Terminada em 1953, a Sonata Para Dois Pianos faz conviverem, sem muitos extremos, o lado gaiato e o lado místico do compositor. Seu terceiro movimento, “Andante Lyrico”, seria para Poulenc o coração de toda a Sonata; em sua compostura e nobreza (menos neoclássicas, talvez, do que art déco), podemos ver algo do espírito presente na ópera Diálogos Das Carmelitas, obra-prima de dramaticidade composta na mesma época. No segundo movimento, está o lado mais vivo e provocativo de Poulenc. Um piscar de olhos, quem sabe, para a feliz motricidade de Mozart no KV 448?


“Tirando Mozart, Debussy é meu compositor preferido”, disse Poulenc numa entrevista.4 Adorava Schumann também; neste concerto, as afinidades se cruzam, de século a século, de um piano a outro.
MARCELO COELHO é colunista do jornal Folha de S.Paulo.


1. Apud Charton, Ariane. Debussy. Paris: Gallimard, 2012, p. 212.
2. Einstein, Alfred. Mozart. Paris: Gallimard, 1991 [1953], p. 347.
3. Hutchings, Arthur. “La Musique de Clavier”. In: Robbins Landon, Howard Chandon e Mitchell, Donald (orgs.). Initiation à Mozart. Paris: Gallimard, 1959.
4. Poulenc, Francis. J'Écris ce Qui me Chante. Paris: Fayard, 2011.

 

 

 

 

PROGRAMA

ÉRIC LE SAGE piano
FRANK BRALEY piano


ROBERT SCHUMANN [1810-56]
Seis Estudos em Forma de Cânone, Op.56 [1845]
- Nicht zu Schnell [Não Muito Rápido]
- Mit Innigem Ausdruck [Com Bastante Expressão]
- Andantino
- Innig [Expressivo]
- Nicht zu Schnell [Não Muito Rápido]
- Adagio
22 MIN


CLAUDE DEBUSSY [1862-1918]
La Mer [O Mar] [1903-5]
- De l'Aube à Midi Sur la Mer [Da Alvorada ao Meio-dia no Mar]
- Jeux de Vagues [Jogo Das Ondas]
- Dialogue du Vent et de la Mer [Diálogo do Vento e do Mar]
24 MIN
______________________________________
WOLFGANG AMADEUS MOZART [1756-91]
Sonata Para Dois Pianos em Ré Maior, KV 448 [1781]
- Allegro Con Spirito
- Andante
- Allegro Molto
24 MIN


FRANCIS POULENC [1899-1963]
Sonata Para Dois Pianos [1953]
- Prologue: Extremement Lent et Calme
- Allegro Molto - Très Rythmé
- Andante Lyrico - Lentement
- Epilogue: Allegro Giocoso
19 MIN