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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
16
mai 2015
sábado 16h30 Imbuia
Temporada Osesp: Denève rege Temas de Filmes e Berlioz


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Stéphane Denève regente


Programação
Sujeita a
Alterações
John WILLIAMS
Contatos Imediatos: Suíte
Bernard HERRMANN
Um Corpo Que Cai: Suíte
John WILLIAMS
A Menina Que Roubava Livros: Suíte
Bernard HERRMANN
Psicose: Suíte (Attacca)
Intriga Internacional: Tema
Hector BERLIOZ
Sinfonia Fantástica, Op.14
INGRESSOS
  Entre R$ 45,00 e R$ 178,00
  SÁBADO 16/MAI/2015 16h30
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

ENTREVISTA COM STÉPHANE DENÈVE


Como surgiu a ideia para este programa?
Tudo partiu de Berlioz. Sua música, sobretudo a Sinfonia Fantástica, sempre me transmite a impressão de que ele é uma espécie de inventor do cinema, quase 70 anos antes dos irmãos Lumière. Sua escrita é muito imaginativa e, como regente, sempre tenho ideias para cenas cinematográficas quando trabalho com suas composições. Por isso, pensei propor um programa que misturasse música de filme e a Sinfonia Fantástica.


E por que a escolha desses dois compositores, John Williams e Bernard Herrmann?
São certamente dois dos mais geniais compositores que já trabalharam para a indústria do cinema, mas é também uma escolha muito pessoal. Conheci John Williams em 2007, na Califórnia, numa de minhas visitas para reger a Filarmônica de Los Angeles. Houve um concerto promovido por Steven Spielberg, não lembro ao certo a circunstância, e Williams regeu, com a mesma Filarmônica, a trilha de Bernard Herrmann para Um Corpo Que Cai, de Hitchcock, além de obras suas. Fiquei muito impressionado com essa interpretação, que destacava o potencial da música para além de sua notável “eficiência” como trilha para o filme de Hitchcock.


Nessa ocasião, conversamos sobre Bernard Herrmann, que John conheceu pessoalmente e a quem admira muito. Podemos dizer que assim foi plantada a semente deste programa. Depois daquela ocasião em 2007, tive várias oportunidades de estar com John Williams. Trabalhamos juntos algumas vezes, visitei sua casa, conversamos muito.


Ele me mostrou seus manuscritos anotados, aquelas partituras que na música de cinema chamam de cue sheet [folha guia], e é um trabalho realmente impressionante. Há um registro de tudo o que acontece no filme, segundo após segundo, de maneira a permitir que a construção musical alcance o nível de sutileza que conhecemos nessas grandes obras-primas do cinema — que conhecemos como espectadores, mas sem ter a consciência da profundidade e da seriedade do trabalho envolvido, um trabalho “wagneriano”, tanto na dimensão quanto no cuidado com o detalhe e no trato com os leitmotivs.


John é um compositor pelo qual tenho paixão, um artista incrível, capaz de criar as emoções mais intensas.


A música tem um papel muito especial em Contatos Imediatos de Terceiro Grau, de Spielberg.
Essa trilha começa como uma espécie de peça de vanguarda, com efeitos de cluster, efeitos sonoros que lembram as experimentações dos anos 1960. Subitamente, nasce aquele inesquecível tema [cantarola: ré mi dó, dó sol]. No filme, essa melodia permite que se estabeleça contato entre os terráqueos e os visitantes do espaço — o fim do filme é apaixonado, cheio de esperança.

 

Também há aqui uma relação com a Sinfonia Fantástica, uma vez que esse tema funciona como uma “ideia fixa” — aliás, na mesma tonalidade e com características próximas das da célebre “ideia fixa” da peça de Berlioz. A composição de Williams é certamente uma das grandes obras-primas da história da música para cinema.


Não deixa de ser curioso que Williams, um francófono, tenha se tornado amigo do cineasta François Truffaut, que participa como ator do filme de Spielberg. Como todos sabem, Truffaut era um grande admirador de Hitchcock e é autor de um maravilhoso livro de entrevistas com o mestre britânico. Na esteira dessa admiração, Truffaut convidou Bernard Herrmann para escrever a música de dois de seus filmes: Fahrenheit 451 e A Noiva Estava de Preto.


A Menina Que Roubava Livros é um filme bem mais recente. Williams recebeu um Grammy pela música original, mas é uma peça menos conhecida.
Há dois ou três anos, assisti a um concerto de Williams no Festival de Tanglewood, onde há tempos participo da série “Tanglewood on Parade”. Ele regeu sua recém-composta trilha para A Menina Que Roubava Livros. A música era belíssima, foi muito emocionante vê-lo apresentando uma criação recente (eu mesmo não havia visto o filme). Minutos depois do concerto, fui vê-lo no camarim e toquei ao piano alguns trechos do que havíamos acabado de ouvir. Williams ficou muito impressionado que eu tivesse retido tanto da música em apenas uma audição, foi um momento bonito. A peça é emocionante, algo mahleriana, enfim: belíssima.


Bernard Herrmann colaborou com Hitchcock em vários filmes. Por que a escolha de Psicose, Um Corpo Que Cai e Intriga Internacional?
Essas trilhas compartilham certa intensidade, um lado meio bad trip, que encontramos também em algumas passagens da Sinfonia Fantástica. O cinema de suspense aproveita muito desse potencial inquietante e assustador que a música pode ter. Aliás, em minha opinião, o tema de Intriga Internacional lembra bastante a “Marcha Para o Cadafalso”, da Sinfonia Fantástica.


De maneira geral, tanto em Berlioz quanto em Herrmann e Williams, é recorrente o aproveitamento de certas tensões e dissonâncias para criar efeitos impressionantes, com grande apelo visual. Pensemos na música da cena mais conhecida de Psicose, quando Janet Leigh é atacada no chuveiro. O material musical é muito simples, não há quase nada, um glissando nas cordas, no registro agudo, o intervalo de nona menor. Há uma grande singularidade na orquestração, que ressalta o caráter estranho da passagem.


Isso dito, os três compositores exploram magistralmente as possibilidades, cada um à sua maneira. E é isso que faz com que a música deles seja imediatamente reconhecível.


Você regeu a Sinfonia Fantástica diversas vezes em sua carreira. Como sua visão pessoal sobre a obra e sua interpretação evoluíram ao longo dos anos?
Penso que a força da peça está no equilíbrio tenso entre duas dimensões: seu caráter romântico, talvez mesmo clássico, e a vigorosa imaginação de Berlioz, que aqui se mostra visionária. É uma peça que deve muito a Beethoven, e também a Weber, mas que antecipa procedimentos estéticos que só se tornariam corrente no século XX, como efeitos sonoros e rupturas extraordinárias.


Enfatizar demais os efeitos sonoros e visuais pode transmitir a impressão de uma obra apenas decorativa. Por outro lado, uma leitura muito “prudente” corre o risco de se tornar algo tediosa. A boa interpretação deve ser capaz de manter esses dois aspectos presentes: uma moldura beethoveniana com a profundidade clássica, mas sem temer embarcar numa viagem fantástica.


E que tal voltar a São Paulo?
Estou muito contente. A orquestra é ótima, a sala é simplesmente maravilhosa e a direção artística demonstra uma notável abertura para a criação e a contemporaneidade. Basta dizer que este programa é uma estreia. Sempre quis apresentar a Sinfonia Fantástica ao lado de música de cinema, tanto para chamar a atenção para os aspectos inovadores da obra de Berlioz quanto para realçar a qualidade de compositores como John Williams e Bernard Herrmann.


Frequentemente, a música de cinema é considerada algo menor. Entendo que hoje as melhores trilhas de filme fazem parte do repertório sinfônico, podem e devem ser programadas nos concertos das grandes orquestras. Acredito também que, quando essa música é tocada e ouvida sem as imagens para as quais foi originalmente utilizada, é possível e desejável propor maneiras diferentes de interpretá-la, reforçando dimensões que não tinham tanta relevância quando a questão era sua funcionalidade no contexto do filme.
Entrevista a RICARDO TEPERMAN.

 

 

 

 


Em 1830, três obras revolucionárias marcaram o triunfo do movimento romântico na França: Hernani, de Victor Hugo, peça teatral que desencadeou a batalha entre “clássicos” e “românticos”; A Liberdade Guiando o Povo, tela de Eugène Delacroix, alegoria pictórica da luta pela liberdade e pela República; e a Sinfonia Fantástica, de Hector Berlioz, que subverteu a música da época e influenciou Liszt e Wagner, mas também os compositores do Grupo dos Cinco na Rússia, entre tantos outros.


Até hoje, a liberdade formal, as invenções orquestrais e o alcance simbólico da obra não deixam de impressionar. Leonard Bernstein chegou a dizer que ela é a primeira obra “psicodélica” da história da música.
A primeira apresentação da Sinfonia Fantástica foi em 5 de dezembro de 1830, em Paris, na sala do Conservatório. Depois, enquanto passava uma temporada na Villa Medici, em Roma, Berlioz modificou alguns movimentos — em especial o terceiro, que foi totalmente reescrito. Dois anos depois, em 9 de dezembro, a Sinfonia Fantástica era novamente apresentada em Paris.


O sucesso foi considerável. No evento, estavam presentes todas as “estrelas” do meio artístico parisiense: Frédéric Chopin, Alexandre Dumas, Théophile Gautier, Victor Hugo, Franz Liszt, Niccolò Paganini e também a romancista George Sand. A Sinfonia colocava Berlioz entre os maiores compositores de seu tempo — e ele ainda não tinha 30 anos.


É difícil hoje entender como um rapaz da pequena burguesia provinciana em poucos anos conseguiu se firmar ao mesmo tempo como um continuador de Beethoven e como o inventor da orquestra moderna. Principalmente porque antes dos 18 anos e da chegada a Paris para estudar medicina, a formação musical de Berlioz era das mais modestas: algumas aulas de flauta e violão, nada mais. Mas essa juventude “pastoral” talvez tenha sido justamente a matriz de sua obra extraordinária.


O Dauphiné, lugar de origem de Berlioz, com suas paisagens alpinas, seus costumes e sons, histórias e lendas, é a terra nutriz do imaginário do compositor. Seria possível até adivinhar que nela se inspirou o texto programático apresentado por Berlioz para os cinco movimentos da Sinfonia Fantástica (evidentemente como complemento das usuais referências à literatura romântica). Analisemos cada uma das cinco anotações do compositor:


“Devaneios — Paixões”. Um jovem músico é agitado por suas paixões…
A passagem remete ao jovem Hector, adolescente de 12 anos, apaixonado pela bela Estelle, que se tornará sua “ideia fixa” (“ideia fixa” é também o nome do famoso motivo melódico que aparece ao longo de toda a sinfonia).


“Um Baile”. O jovem herói se encontra no “tumulto de uma festa”...
Em sua correspondência com as irmãs, Berlioz se refere ao baile de sua aldeia natal. A ideia de um “baile campestre” também aparece em seu comentário à Sinfonia nº 6 - Pastoral, de Beethoven, que ele tanto admirava.


“Cena Campestre”. Sempre em sua agitação amorosa, o jovem ouve a canção dos pastores, “quando vem de Genebra”…
Jean-Jacques Rousseau também notara o canto dos pastores suíços, presentes no Dauphiné durante a infância de Berlioz. Aliás, entre a propriedade rural da família e a leitura de Virgílio por seu pai, Louis, Berlioz não ignorava a poesia do mundo agrícola.


“Marcha Para o Cadafalso”. O herói, intoxicado pelo ópio, vê em delírio uma marcha para o cadafalso depois de matar a amada.
Um dos últimos supliciados da história da França foi o bandido Mandrin, originário da aldeia vizinha. Esse homem enfrentara o avô de Berlioz em dois processos. Quanto ao ópio, o médico Louis Berlioz, pai do compositor, tinha acesso a ele e o usava.


“Sonho de Uma Noite de Sabá”. O jovem se vê no sabá, “no meio de uma turba medonha de espectros, feiticeiros e monstros”.
Os sabás, cerimônias de bruxaria, com suas figuras assustadoras e fantásticas, ainda existiam na França (e notadamente na região onde nasceu Berlioz).


Assim, com a Sinfonia Fantástica, Berlioz subverte as regras da música, inaugura a orquestra moderna, brinca com formas, timbres e ritmos, bem como com a estrutura musical que, tornando-se narrativa, comporta um programa literário, obra de ficção romântica e delírio autobiográfico. Incontestavelmente, essa tentativa de levar a sinfonia em direção a uma “obra de arte total” é (e continuará sendo!) fantástica.
BRUNO MESSINA é diretor do Festival Berlioz. Tradução de Ivone Benedetti.

 

 

PROGRAMA

STÉPHANE DENÈVE regente


JOHN WILLIAMS [1932]
Contatos Imediatos de Terceiro Grau: Suíte [1977]
8 MIN


BERNARD HERRMANN [1911-75]
Um Corpo Que Cai: Suíte [1958]
10 MIN


JOHN WILLIAMS [1932]
A Menina Que Roubava Livros: Suíte [2013]
8 MIN


BERNARD HERRMANN [1911-75]
Psicose: Suíte [1960]
6 MIN
(Attacca)
Intriga Internacional: Tema [1959]
4 MIN
______________________________________


HECTOR BERLIOZ [1803-69]
Sinfonia Fantástica, Op.14 [1830]
- Réveries - Passions [Devaneios - Paixões]
- Un Bal [Um Baile]
- Scène Aux Champs [Cena Campestre]
- Marche au Supplice [Marcha Para o Cadafalso]
- Songe d'Une Nuit de Sabbat [Sonho de Uma Noite de Sabá]
49 MIN