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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
10
ago 2014
domingo 16h00 Recitais Osesp
Recitais Osesp: Dmitry Mayboroda


Dmitry Mayboroda piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Frédéric CHOPIN
Balada nº 1 em Sol Menor, Op.23
Noturno, Op.27 nº 2 em Ré Bemol Maior
Noturno, Op.32 nº 2 em Lá Bemol Maior
Noturno, Op.48 nº 1 em Dó Menor
Valsa, Op.34 nº 1 em Lá Bemol Maior
Polonaise nº 6 em Lá Bemol Maior, Op.53
Sergei RACHMANINOV
Sonata nº 1 Para Piano em Ré Menor, Op.28
INGRESSOS
  Entre R$ 66,00 e R$ 86,00
  DOMINGO 10/AGO/2014 16h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa
Tecnicamente, um século os separaria, se considerássemos o intervalo entre os anos em que a vida criativa de cada um deles foi silenciada pela morte. Musicalmente, porém, vários fatores aproximam o franco-polonês Frédéric Chopin e o russo imperial Sergei Rachmaninov. Que ambos tenham passado suas últimas décadas no desterro configura, em escala histórica, uma “coincidência” política — ainda que os respectivos exílios tenham sido motivados pela mesma nação, a Rússia.

Chopin, nascido em família modesta, porém educado na aristocracia (em torno da qual jamais deixou de gravitar), deixa Varsóvia carregando literalmente um punhado de terra de seu país natal às vésperas da insurreição popular que fracassaria sob as botas russas. Nunca mais voltou. Enterrado no cemitério Père Lachaise, em Paris, teve, a seu pedido, o coração trasladado para a Polônia.

Rachmaninov, descendente de uma linhagem de senhores feudais da Moldávia, se autoexila com a Revolução de Outubro de 1917, orbitando entre França, Suíça e Alemanha, até se fixar nos Estados Unidos, onde morre em Los Angeles. No apogeu, ambos vivem faustosamente no estrangeiro. Mas nenhum deles superaria a nostalgia da pátria.

O quanto acontecimentos históricos e políticos podem afetar a criação musical seria objeto de farta discussão, mas o fato é que nem mazurcas nem Polonaises, entre as quais a nº 6 - Heroica, com toda sua “tensão revolucionária”, fizeram deles compositores propriamente nacionalistas. O que os aproxima decisivamente, num impensável vértice temporal, é a inclinação romântica de dois músicos que fizeram do piano seu elemento principal.

No livro O Óbvio e o Obtuso, Roland Barthes afirma que todo instrumento, desde o mais remoto, é um signo social e implica uma ideologia — seja de uma época ou de uma circunstância. E é também ele quem nos lembra que o piano moderno, tal como construído no século XIX, é um instrumento de classe: um instrumento para o grande público, não mais para a intimidade dos pequenos recintos. O piano romântico (exceção feita a Schumann) seria a exteriorização do sujeito tumultuado.

Musicólogos menos simpáticos costumam impingir a Chopin e Rachmaninov a pecha de “compositores de salão”. Em que pese o temperamento mais mundano do que filosófico de ambos, ou o anacronismo estilístico de Rachmaninov, em particular, trata-se de gênios — como intérpretes e como compositores. Ambos transferiram para o piano o virtuosismo do qual eram excepcionalmente dotados e com o qual obtiveram notoriedade mundial. Num artigo da época, a Gazette Musicale parisiense declarava Chopin — e não Liszt! — “o maior pianista do mundo”. Rachmaninov faria fortuna extraordinária como concertista na Europa ocidental e nos Estados Unidos. O inventário que deixaram constitui um desafio olímpico e expressivo, somente vencido pelos maiores instrumentistas.

Do ponto de vista do léxico musical, ambos se fundem no arrebatamento carregado de páthos, no lirismo exacerbado por cromatismos tonais, na ornamentação que beira a coloratura vocal e, bem a propósito, na paixão pela ópera refletida em páginas pianísticas em que reina, absoluta, a melodia. O piano deve “cantar”, a mão direita como que deslocada de toda a complexa estrutura contrapontística e harmônica, dos acordes quebrados, arpejados, num tempo dito rubato (roubado), a ser por sua vez sustentado literalmente com pulso firme pela mão esquerda. Para pianistas da tradição dos grandes conservatórios (da qual os países do Leste são exemplares), amar Chopin equivale a amar Rachmaninov, noblesse oblige.

A Balada nº 1, a Polonaise nº 6 - Heroica, a Valsa nº 1 e os Noturnos são peças em que se pode observar o apreço acentuado de Chopin pelos tempos (ou subdivisões) ternários e nas quais se evidencia, conforme nota o compositor Pierre Boulez, a volatilidade da invenção espontânea, alheia ao rigor das grandes formas clássicas, em favor da expressão “do instante”.1 São obras contundentes, embora relativamente breves (sendo os Noturnos quase miniaturescos, “pré-impressionistas”, nas palavras do pianista Alfred Cortot), se comparadas ao tour de force único e de discurso praticamente ininterrupto da Sonata nº 1, de Rachmaninov. Concluída em 1908 e inicialmente pensada como música programática a partir do Fausto de Goethe, ela não traduz com fidelidade a forma-sonata clássica, assumindo mais a desenvoltura de uma longa rapsódia em três movimentos, em reiterativo Ré Menor. A Sonata permaneceu injustamente à sombra dos grandes monumentos da literatura pianística.

Há um continuum implícito entre Chopin e Rachmaninov, que remonta a um denominador comum: Franz Liszt, de quem Chopin foi par e cuja escola virtuosística chegou até Rachmaninov por meio de Alexander Siloti, seu primo e ex-aluno do compositor húngaro. Talvez se possa afirmar que Chopin é o tema e Rachmaninov, sua melhor variação (em 1903, ele chegou mesmo a compor suas Variações Sobre um Tema de Chopin, a quem tinha como modelo). “Variação”, na acepção musical, indica o desenvolvimento de uma ideia. Em Rachmaninov, a melodia prepondera, porém com contornos e volutas mais contrapontísticas, encadeada na nota superior dos acordes, agora também exigidos da mão direita. Ouve-se nele as ressonâncias da chamada blue note, a “nota azul”, aquela doce fisgada de dissonância que tanto caracteriza a melancolia por vezes mórbida de Chopin, mas agora sob nova luminosidade. Sim, ambos são noturnos. Em Rachmaninov, porém, haverá sempre um prenúncio de aurora boreal: suas cores difusas, seja qual for o matiz, como que dançam e brincam no espaço sonoro.

REGINA PORTO é compositora e pesquisadora. Produtora do projeto Acervo Osesp (2012-3), foi diretora da rádio Cultura FM de São Paulo e editora de música da revista Bravo!.

1. Boulez, Pierre. Jalons (Pour Une Décennie) (Paris: Christian Bourgois Éditeur, 1989).



FRÉDÉRIC CHOPIN

Balada nº 1 em Sol Menor, Op.23
7 MIN

Noturno, Op.27 nº 2 em Ré Bemol Maior
6 MIN

Noturno, Op.32 nº 2 em Lá Bemol Maior
4 MIN

Noturno, Op.48 nº 1 em Dó Menor
8 MIN

Valsa, Op.34 nº 1 em Lá Bemol Maior
6 MIN

Polonaise nº 6 em Lá Bemol Maior, Op.53
8 MIN

SERGEI RACHMANINOV

Sonata nº 1 Para Piano em Ré Menor, Op.28
-Allegro Moderato
-Lento
-Allegro Molto
40 MIN