Temporada 2024
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PRAÇA JÚLIO PRESTES, Nº 16
01218 020 | SÃO PAULO - SP
+55 11 3367 9500
SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
16
jun 2017
sexta-feira 21h00 Pequiá
Temporada Osesp: Wellber, Hough e Baldini


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Omer Meir Wellber regente
Emmanuele Baldini violino
Sir Stephen Hough piano


Programação
Sujeita a
Alterações
Niccolò PAGANINI
Capriccio nº 24 para Violino solo em lá menor
Sergei RACHMANINOV
Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, Op.43
Pyotr I. TCHAIKOVSKY
Manfred, Op.58 - Sinfonia em Quatro Quadros
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SEXTA-FEIRA 16/JUN/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

PAGANINI
Capriccio nº 24 em Lá Menor

 

Com uma presença cênica cativante e em pleno domínio de recursos e efeitos expressivos que desenvolveu especialmente para suas performances ao violino, o italiano Niccolò Paganini colocou em foco o próprio virtuosismo como elemento artístico relevante a ser explorado no contexto da música de concerto. Como é comum ainda hoje no ambiente da música popular instrumental, o crescimento de sua atividade como compositor decorreu diretamente de suas necessidades como intérprete, ou seja, seu conhecimento do violino era tão específico que somente ele poderia criar as peças em que tal potencial pudesse ser amplamente experimentado. Tomado como modelo, o exemplo de Paganini seria logo adaptado para o contexto da escrita pianística por uma série de compositores da primeira geração do romantismo, em especial Liszt, a partir dos anos 1830.


Composto em 1813, o Capriccio nº 24 organiza-se a partir de um breve tema em Lá Menor, seguido de 11 variações, cada qual explorando diferentes aspectos do violino.


Cerca de 120 anos depois, o compositor russo Sergei Rachmaninov baseou-se neste mesmo tema de Paganini para estruturar sua Rapsódia Op.43 para piano e orquestra, que ouviremos na sequência.

 

SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP,
coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP)
e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.

 

 

RACHMANINOV
Rapsódia sobre um Tema de Paganini, Op.43

 

“Quando escrevo minha música, tento fazer com que ela fale da maneira mais simples e direta o que guardo em meu coração...” (1941). O problema é que o que Rachmaninov guardava em seu coração não era nada simples. Seu universo psicológico manteve-se ancorado no século XIX, mas o século XX chegou bruscamente em 1917, quando a Revolução Russa o levou a morar no exterior pelo resto de seus dias.


A Rapsódia tem um forte componente de burla, especialmente por não ser uma rapsódia, mas sim um tema com variações, bem fundamentado nos exemplos de Beethoven e Tchaikovsky. Essas variações agrupam-se em unidades maiores, que dão a impressão de constituir os três movimentos de um concerto convencional. O tema — do Capriccio nº 24 de Paganini —, com seu contorno esbelto e neutralidade expressiva, só é apresentado depois da primeira variação.


As variações 1 a 15 formam uma espécie de primeiro movimento, com complexidade crescente, contrastes de atmosfera, a intrusão do icônico canto fúnebre gregoriano Dies Irae (uma obsessão do autor) e uma cadência para o solista. A energia da peça começa a se comprimir e as variações 16 a 18 formam um suposto “segundo movimento”; as variações nos 16 e 17 são fantasmagóricas, mas a bruma se dissolve num retrato completo do mais puro Rachmaninov na famosíssima variação nº 18. Dali por diante, as variações seguem uma progressão de brilho crescente, provendo o solista com ampla munição para uma exibição de virtuosidade. Mas, no último segundo, ele dispensa o esperado final apoteótico, o tema do Dies Irae retorna e termina a obra com um gesto de desprezo.


Escrita rapidamente, entre julho e agosto de 1934, a Rapsódia foi estreada em novembro do mesmo ano com o autor ao piano, e a Orquestra de Filadélfia regida por Leopold Stokowski.

 

Fabio Zanon é violonista, professor da Royal Academy Of Music de Londres

e autor de Villa-Lobos (Coleção “Folha Explica”, São Paulo, Publifolha, 2009).

Desde 2013, é Coordenador Artístico-Pedagógico do

Festival de Inverno de Cam- Pos do Jordão.

 

 

TCHAIKOVSKY 

Manfred, Op.58 - Sinfonia em Quatro Quadros /TCHAIKOVSKY EM FOCO


Na sua nova residência em Maidanovo, no ano de 1885, Tchaikovsky compõe Manfred, Sinfonia em Quatro Quadros, destinada a ser a primeira grande obra da última fase de sua vida. Balakirev havia adaptado um resumo do enredo — baseado em poema de Lord Byron — e ofereceu-o a Tchaikovsky, que o aceitou relutantemente, dizendo: “É mil vezes mais agradável trabalhar sem programa. Quando componho uma sinfonia programática, tenho continuamente a sensação de estar iludindo o público e de pagar uma conta com moeda falsa”. Com o passar do tempo, entretanto, passou a considerar Manfred como uma de suas melhores obras, talvez por sentir nela a presença forte de seu próprio drama existencial.


Manfred vagueia pelos Alpes, sem rumo, o coração torturado, tomado de remorsos. Clarinetes e fagotes acolhem esses sentimentos. A feiticeira dos Alpes surge sob o arco-íris da catarata, mas nem mesmo o ritual de magia ou a invocação dos poderes do Inferno o ajudam a resolver o enigma. Como apagar de seu coração a memória de sua belíssima irmã, Astarte, e o amor culpado que o consome? Manfred erra pelo mundo, vítima do mais desesperado horror. Este episódio permitiu a Tchaikovsky esculpir um scherzo sublime que traz aos ouvidos o rumorejar da água, o cintilar das gotas ao sol, as cores do arco-íris, na paleta sonora da orquestra. A fada surge, envolta pelo murmúrio dos arcos, em contraste com o tema de Manfred. A tranquila vida montanhesa toma corpo (na voz do oboé) numa pastoral, que não descreve a natureza, mas sim o universo íntimo de um homem em conflito consigo mesmo (um hino, um anseio à vida pura, livre e tranquila dos habitantes da montanha), “Ah! Não poder ser feliz como esta gente simples!” — é talvez o lamento do próprio Tchaikovsky, através da metáfora de Manfred.


Na última parte, Manfred é admitido no palácio subterrâneo de Ahriman (príncipe dos Infernos). Ali, agita-se numa bacanal orgiástica, num último esforço catártico para exorcizar a vida e purgar seus males. Ao ser invocada, surge Astarte, anunciada pelas harpas. Ela declara o fim dos sofrimentos terrenos de seu irmão, que exala um último suspiro — ao som do órgão que entoa o tema penoso e hierático do Dies Irae.


Walter Lourenção é formado em Filosofia pela USP; foi Maestro do Theatro Municipal

de São Paulo e fundador de várias orquestras, corais e grupos de câmara,

além de diretor de programação do Masp durante 10 Anos.


Leia sobre Pyotr I. Tchaikovsky no ensaio "Tchaikovsky, Sinfonista Patético", de Richard Taruskin, aqui.