Temporada 2024
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SEG A SEX – DAS 9h ÀS 18h
14
abr 2017
sexta-feira 21h00 Araucária
Temporada Osesp: Peleggi rege Haydn - As Sete Últimas Palavras


Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo
Valentina Peleggi regente
Lina Mendes soprano
Lucia Duchonová mezzo soprano
Marcus Ullmann tenor
Andreas Schmidt barítono
Coro da Osesp


Programação
Sujeita a
Alterações
José Mauricio NUNES GARCIA
Abertura em Ré
Joseph HAYDN
As Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz (versão coral)
INGRESSOS
  Entre R$ 46,00 e R$ 213,00
  SEXTA-FEIRA 14/ABR/2017 21h00
Sala São Paulo
São Paulo-SP - Brasil
Notas de Programa

JOSÉ MAURÍCIO NUNES GARCIA (1767-1830)

Abertura em Ré /JOSÉ MAURÍCIO 250

 

FRANZ JOSEPH HAYDN (1732-1809)

As Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz /HAYDN EM FOCO

 

Em seu ensaio “Haydn, um Compositor Solar” (1), Laura Rónai discute a importância do compositor austríaco na consolidação do que entendemos hoje como estilo clássico na música do final do século XVIII: “Geralmente se imagina que os compositores mais importantes para a história são os que trazem mudanças revolucionárias para a expressão musical. Mas tão fundamentais quanto os inovadores, que invertem as regras conhecidas, são aqueles que cristalizam as tendências de seu tempo. A linguagem de Haydn está tão intimamente identificada ao estilo da época que esquecemos o quanto ele foi original”. É nesse sentido que o musicólogo Richard Taruskin (2) usa os conceitos de “norma” e “desvio” para explicar a importância de Haydn na criação da ideia de significação no campo da música; é como se o compositor tivesse ao mesmo tempo inventado e normatizado as regras do jogo, para poder subvertê-las na sequência.

 

O oratório As Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz é a primeira de uma série dessas obras de Haydn — originais em seu tempo —, que estarão em foco na Temporada 2017 da Osesp. Encomendada em meados dos anos 1780 pelo arcebispo de Cádiz na Espanha para a celebração da Sexta-Feira Santa, a peça foi escrita inicialmente para orquestra de cordas, com uma introdução seguida de sete movimentos lentos. Cada movimento, por sua vez, foi inspirado em uma das sete frases proferidas por Cristo na cruz, que se encontram relatadas nos Evangelhos de Lucas, João, Mateus e Marcos, com pequenas variações e em nenhum deles de forma completa. O próprio compositor descreveu os detalhes da cerimônia em que ocorreu a estreia, na qual toda a claridade da igreja havia sido vedada com panos negros, restando apenas um foco de luz ao alto; o ritual consistia no anúncio da primeira “palavra” pelo bispo, que imediatamente se ajoelhava diante do altar enquanto a música era interpretada. O mesmo procedimento era seguido para as demais frases até chegar à seção final, que se refere ao terremoto que se abateu sobre a terra após a crucificação. Além da versão original, existem outras três, uma para quarteto de cordas, uma redução para piano e esta versão com coro e solistas, que foi a última obra regida por Haydn em dezembro de 1803.


A força e a fineza estrutural do estilo clássico de Haydn foram determinantes para a consolidação das formas e formações musicais que ainda hoje, dois séculos depois, são as nossas principais referências para estudo, interpretação e composição, seja por aproximação a elas, seja por afastamento. A produção de Haydn envolve qualidade em quantidade, compreendendo mais de cem sinfonias e dezenas de quartetos de cordas e concertos para diferentes instrumentos solistas.


A luz de sua “personalidade musical solar” se estendeu por toda a Europa, chegando também a ser a principal matriz para a música colonial feita no Brasil no início do século XIX, especialmente no caso do padre José Maurício Nunes Garcia. Filho de escravos alforriados, mestre de capela da Sé do Rio de Janeiro, José Maurício foi nomeado também Mestre da Real Capela, quando da chegada do príncipe regente D. João ao Brasil em 1808. Tal influência do classicismo vienense pode ser observada tanto na escrita de José Maurício quanto na seleção de peças que fazia para compor o repertório de concerto no Rio de Janeiro. Em seu ensaio “Padre José Maurício 250 Anos” (3), Carlos Alberto Figueiredo conta que o compositor brasileiro chegou a reger o Réquiem de Mozart em 1819 na Igreja de Nossa Senhora do Parto (RJ), e há indícios de que promoveu também uma performance d’A Criação de Haydn (4).


A obra de José Maurício é em sua grande maioria formada por peças sacras, sendo que apenas três obras instrumentais profanas são conhecidas. A Abertura em Ré, que antecede As Sete Últimas Palavras do Redentor na Cruz no programa de hoje, é uma delas. Escrita para cordas, trompas, clarinetes e flauta, a Abertura se estrutura a partir de dois temas, o primeiro apresentado pelas cordas e o segundo pelos sopros, que se alternam em um “Allegro” em tonalidade maior. Antes disso há uma breve introdução em que as durações mais longas predominam, organizando lentamente e passo a passo os primeiros sons, em Ré Menor, como no oratório de Haydn.


Ao estabelecer as primeiras bases mais consistentes, como compositor, professor e regente, para a prática musical na transição colônia-império, José Maurício inaugurou, de certo modo, um caminho para toda a música de concerto que seria feita no Brasil desde a segunda metade do século XIX; o caminho por onde passariam Villa-Lobos, Francisco Mignone, Camargo Guarnieri e tantos outros.

 

SERGIO MOLINA é compositor, Doutor em Música pela USP, coordenador da Pós-Graduação em Canção Popular na FASM (SP) e professor de Composição no ICG/UEPA de Belém.

 

 

1. Revista Osesp 2017, pp. 32-40.


2. TARUSKIN, Richard. Music in the Seventeenth and Eighteenth Centuries: The Oxford History of Western Music. Oxford University Press, 2009.
3. Revista Osesp, pp. 26-30.


4. A celebração de 250 anos de nascimento do compositor carioca contará também com a apresentação em novembro de sua própria Missa de Réquiem, que será gravada para o Selo Digital da Osesp.


Leia sobre Joseph Haydn no ensaio "Haydn, um compositor solar", de Laura Rónai aqui.


Leia sobre José Maurício Nunes Garcia no ensaio "Padre José Maurício: 250 anos", de Carlos Alberto Figueiredo aqui.